Desertos são locais surpreendentes, embora façam calor em boa parte do tempo, em alguns deles pode até mesmo nevar. No deserto Dasht-e Lut, no Irã, pequenas poças d’água dão vida aos camarões-fada, primos de água doce do camarão-d‘água. Mas, como isso é possível?
Assim que o líquido entra em contato com ovos minúsculos e dissecados, começam a chocar. Eles podem estar ali há décadas. E quando as chuvas ganham força, os pequenos crustáceos emplumados aparecem. Podem sobreviver por até dois meses, antes de morrer ou de a piscina secar.
Camarões podem prosperar nos desertos escaldantes
Os camarões podem viver em lagoas sazonais no mundo inteiro. Enquanto isso, o deserto de Lut é tratado por alguns como o lugar mais quente do mundo. Talvez seja o último lugar que alguém pensaria em encontrar água, ainda mais com algum animal vivendo sobre ela.
Em 2005 o satélite Aqua, da NASA, registrou a temperatura de 70,72ºC. Ainda assim, a presença de um animal aquático não estava completamente descartada.
“Não estou surpreso com a presença de Phallocryptus em qualquer lugar”, disse Miguel Alonso, um biólogo da Universidade de Barcelona que não esteve envolvido com a pesquisa. “Camarões feericamente podem aparecer em qualquer lugar”, completou.
A chuva após uma década e a descoberta de vida no deserto
Em 2017 Hossein Rajaei, entomologista do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, e autor do estudo, foi o primeiro a avistar o camarão. A região é conhecida como “deserto do vazio”
“Suponho que deram esse nome porque muitas pessoas acreditavam que não havia vida neste deserto“, explicou Rajaei. Contudo, expedições recentes mostraram que há aranhas, lagartos e outros animais vivendo neste deserto.
Certo dia, pouco antes do meio-dia, os pesquisadores encontraram um lago brilhando no deserto. Ele foi causado pela primeira chuva forte após uma década de seca. A água estava em 30,5ºC, mas refrescante em relação ao imenso calor do deserto.
Enquanto aproveitava a piscina, Rajaei percebeu a presença de criaturas brancas nadando próximo de suas pernas. Hadi Fahimi, um herpetologista, e Alexander V. Rudov, outro autor do artigo, entraram na água e ajudaram a pegar os animais.
Realmente, uma nova espécie de camarões
Alguns dos espécimes femininos coletados tinham ovos iridescentes de cor esmeralda em suas barrigas. Os animais foram coletados somente em um lago, já que os outros estavam perto de secar e com muita lama.
Rajaei pediu ajuda ao Dr. Martin Schwentner, principal autor do artigo e pesquisador do Museu de História Natural de Viena que estuda crustáceos semelhantes na Austrália. Assim, verificou que se tratava de uma espécie diferente das quatro conhecidas do gênero Phallocryptus. As diferenças eram pequenas: um órgão frontal mais longo e antenas mais curvas.
A temperatura no Lut varia entre 50ºC durante o dia e 1,6ºC à noite. A equipe de pesquisadores tinha água apenas para beber e lavar as mãos no máximo duas vezes por dia. Além disso, outro desafio são as tempestades de poeira que atingiam os carros e danificaram equipamentos.
Em uma noite a tempestade terminou em chuva. “Não podíamos evitar, começamos a dançar”, comentou Rajaei. “Eu senti como se tivesse perdido uma parte da minha alma no deserto”, completou.
O animal foi batizado como camarão-fada em homenagem ao Dr. Fahimi, que morreu em um acidente um ano após a viagem ao Lut. Ele também foi homenageado com o nome de uma aranha, Oecobius fahimii.
A pesquisa foi publicada na revista Zoology in the Middle East. Com informações de New York Times.