É comum que lagartos regenerem múltiplas caudas

Wellington Reis
Amostra registrada de Algyroides nigropunctatus com cauda trifurcada. (Imagem: © Daniel Koleska e Daniel Jablonski, Ecologica Montenegrina (2015))

O reino animal sempre nos traz diversas surpresas, devido a sua diversidade e, ao mesmo tempo, singularidade. É comum que, os lagartos, ao serem encurralados por predadores liberem parte de sua cauda para servir como uma distração enquanto eles escapam. A capacidade de regenerar sua cauda já nos chama muito a atenção, mas acontece que alguns podem regenerar múltiplas caudas, e uma pesquisa recente mostrou que isso é mais comum do que pensava.

Como surgem os lagartos de múltiplas caudas?

Esses lagartos não nasceram com várias caudas, mas as adquiriram quando perderam e regeneraram suas caudas. Às vezes, quando há essa regeneração de cauda, podem brotar até seis caudas de uma vez só.

Lagarto de duas caudas
(Crédito da imagem: Damian Lettoof, Curtin University)

Pode-se encontrar relatos de todo o mundo de lagartos de múltiplas caudas, até mesmo de mais de 100 anos atrás. Contudo, por esses números serem dispersos, fica difícil de calcular a sua real grandiosidade

Entretanto, agora cientistas fizeram uma grande pesquisa e compilaram relatórios em que estavam registrados de lagartos, que quando regeneraram suas caudas, acabaram adquirindo uma ou várias caudas a mais.

Os pesquisadores buscaram registros de mais de 175 espécies de lagartos, por mais de 400 anos, e os combinaram, criando um grande banco de dados universal de lagartos de múltiplas caudas.

Lagarto com múltiplas caudas
Um lagarto barrado australiano (Ctenotus schomburgkii) com duas caudas. (Crédito da imagem: Damian Lettoof, Curtin University)

Perder a cauda para salvar a vida

Várias das espécies de lagartos analisadas utilizam de uma técnica chamada autonomia caudal. Nessa técnica, eles sacrificam sua cauda, a abandonando para que sirva de distração para os seus predadores. 

Quando perdidas, as caudas são reagrupadas como hastes de cartilagem, podendo acabar com caudas gêmeas no processo. Alguns até mesmo chegam a ter várias caudas de uma vez só, formando uma imagem bizarra. Como o lagarto de quilha azul (Algyroides nigropunctatus) do Kosovo, que foi registrado por pesquisadores por ter adquirido três caudas no lugar da original.

Em 2015, um tegu argentino em preto e branco (Salvator merianae) foi ainda além, quando teve seis caudas que cresceram no lugar da original.

Lagarto com várias caudas
Espécime de S. merianae apresentando seis caudas regeneradas. Observe a ferida (área preta) estendendo-se dorsalmente ao longo da cauda.(Crédito da imagem: Nicolás Pelegrin e Suelem Muniz Leão, Cuadernos de Herpetología (2015))

Um fenômeno bizarro não tão raro

Quando os pesquisados organizaram os dados, notaram que esse fenômeno não é tão incomum quanto parece. Foram 425 casos registrados ao todo, de 63 países, e, a partir desses dados, eles calcularam que pelo menos 3% dos lagartos de todo o mundo acabam adquirindo múltiplas caudas uma hora ou outra.

De acordo com James Barr, candidato a doutorado na Escola de Molecular e Ciências da Vida da Curtin University, em Perth, Austrália, e principal autor do estudo: “Este é um número surpreendentemente alto, e realmente começa a nos fazer pensar sobre os impactos ecológicos que isso poderia ter, especialmente observando que, para o lagarto, uma cauda extra representa um aumento considerável na massa corporal para arrastar”.

Ter múltiplas caudas não da vantagem para os lagartos
(Imagem: Wiley Online Library)

Os cientistas ressaltam que ter mais de uma cauda não é vantagem nenhum, pois isso pode prejudicar possíveis fugas de predadores, além de poder afetar o relacionamento com outros lagartos.

Portanto, lagartos com múltiplas caudas tem menos chance de sobreviver, encontrar um parceiro, e, consequentemente, reproduzir.

No entanto, os cientistas ainda sabem pouco sobre o modo de vida desses lagartos, então estão curiosos para pesquisar como é a vida de um lagarto com múltiplas caudas.

O novo estudo foi publicado em junho na revista Biological Reviews.

Com informações de Live Science.

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