Parte da Zona de Exclusão de Chernobyl, região onde ocorreu a explosão da usina nuclear em 1986, pegou fogo e a radiação na área aumentou.
A explosão na Usina Nuclear de Chernobyl que ocorreu em 26 de abril de 1986 na Ucrânia soviética ainda deixa seus impactos no mundo. Recentemente um incêndio florestal na área denominada zona de exclusão chamou atenção do mundo por ocasionar um pico na radioatividade ambiental na região. O incêndio ocorreu em uma área que cobre cerca de vinte hectares perto da vila abandonada de Vladimirovka, na Zona de Exclusão de Chernobyl, na Ucrânia.
Em uma publicação em 11 de abril no Facebook, Yegor Firsov, chefe do serviço de inspeção ecológica da Ucrânia, mostrou um contador Geiger perto do fogo marcando 2,39 microsieverts por hora (µSv/h), uma unidade de medida da radiação ambiente. A leitura normal na área é de 0,14 μSv/h. O valor registrado de 2,39 µSv/h é significativamente maior do que os níveis típicos de radiação no local.
Um artigo científico de 1996 publicado na revista Science of the Total Environment mostrou que os principais elementos portadores de radiação, composta pelos elementos césio, iodo e cloro radioativos, podem ser absorvidos por plantas e animais da região. Essa radiação absorvida acaba e nas cinzas quando há queimadas na região.
Na própria cidade de Chernobyl e na capital ucraniana, Kiev, um pouco mais distante, os níveis de radiação permaneciam normais, segundo publicou a CNN em 07 de abril. No dia 11, Firsov informou em outro post que os níveis de radiação haviam diminuído na região e retornado níveis normais, cerca de 0,11 a 0,12 μSv/h.
A área de 2.500 quilômetros quadrados em torno da usina foi amplamente isolada desde o colapso de 1986 da Usina Nuclear de Chernobyl. Desde o acidente na usina, árvores e animais colonizaram a área. Contudo, os solos e as florestas da zona de exclusão foram contaminados pela radioatividade em 1986 por precipitação radioativa oriundo do acidente nuclear de Chernobyl. Foi essa radiação que a fauna e flora do local assimilou e agora libera no ar por meio das cinzas e da fumaça.
Firsov culpou as pessoas pelos incêndios periódicos na zona. Ele fez um apelo para que os cidadãos da região evitem as queimadas que dão início a incêndios na zona de exclusão. “O problema de incendiar grama por cidadãos descuidados na primavera e no outono tem sido um problema muito agudo para nós”, escreveu ele. “Todo ano vemos a mesma imagem – campos, juncos, florestas queimam em todas as regiões”.
O ucraniano chefe do serviço de inspeção ecológica também pediu por uma nova legislação para impor penalidades mais severas para quem for pego iniciando incêndios na área. “Existem projetos de lei relevantes. Espero que eles sejam votados. Caso contrário, incêndios em larga escala continuarão ocorrendo a cada outono e primavera”, escreveu Firsov.
Nasa publica foto
Em 10 de abril a NASA publicou uma foto de satélite mostrando as queimadas no norte da Ucrânia.
A imagem da agência espacial dos Estados Unidos mostra, em cores naturais, os incêndios em 9 de abril, conforme observado pelo Espectrorradiômetro de Imagem com Resolução Moderada (MODIS, na sigla em inglês), instrumento do satélite Aqua da NASA. A partir da fotografia do Aqua foi possível observar que os ventos sopravam a fumaça das queimadas em direção à região de Chernihiv, na Ucrânia, e para fronteira com a Bielorrússia.
As autoridades ucranianas combateram os incêndios na zona de exclusão desde 4 de abril de 2020. Em 9 de abril, a polícia evacuou os moradores da vila de Poliske, localizada dentro da zona. No dia anterior, a fumaça se espalhou para a capital da Ucrânia, Kiev, a aproximadamente 100 quilômetros ao sul, segundo a Nasa.
Incêndios como esses na zona de exclusão não são incomuns, mas a gravidade e a intensidade dos incêndios têm aumentado ao longo dos anos, à medida que mais florestas e pastagens se recuperam. Pesquisas também mostraram que incêndios em áreas altamente contaminadas pela radiação podem transportadas por longas distâncias os elementos radioativos presentes nas plumas de fumaça.
Em 5 de abril, as autoridades testaram a qualidade do ar quanto à radioatividade em Kiev e nos subúrbios próximos, mas não relataram ter encontrado nenhuma contaminação radioativa causada pelo homem. Em 9 de abril, o Serviço Estadual de Emergência da Ucrânia informou que os níveis de radiação de fundo continuam dentro da faixa normal em torno de Kiev. Além disso, não foram relatados picos de radiação na Bielorrússia, informou a Nasa.
Zona de Exclusão
A zona de exclusão ocupa uma área na Ucrânia imediatamente ao redor da Usina Nuclear de Chernobyl, onde a contaminação radioativa da precipitação nuclear é mais alta e o acesso ao público e a habitação são restritos.
O objetivo da Zona de Exclusão é restringir o acesso às áreas de risco, reduzir a propagação da contaminação radioativa e conduzir atividades de vigilância radiológica e ecológicas. Hoje, a zona de exclusão é uma das áreas mais contaminadas pela radioatividade no mundo e atrai interesse científico significativo devido aos altos níveis de exposição à radiação no ambiente.
Esses incêndios estão longe do local onde estão os remanescentes do reator nuclear da antiga usina de Chernobyl, que está enterrado sob um espessa estrutura de aço e concreto, denominada de sarcófago.
O incêndio na zona de exclusão de Chernobyl começou em 4 de abril e foi supostamente iniciado por um morador de Kiev, de 27 anos. Na sexta-feira, a polícia da região de Kiev anunciou que havia iniciado um processo criminal contra o suspeito, segundo informações da agência russa de notícias Tass.