Descobertos esqueletos de bebês usando “capacetes” de crânios de outras crianças

Milena Elísios

Arqueólogos encontraram evidências de um ritual funerário, no qual as cabeças das crianças recentemente falecidas eram adornadas com os crânios de outras crianças.

Esta descoberta foi feita na escavação arqueológica do Salango ao longo da costa central do Equador na América do Sul. Dois túmulos, datados de cerca de 2.100 anos e pertencentes ao povo Guangala, foram escavados entre 2014 e 2016. Um total de 11 indivíduos foram encontrados enterrados nos montes, o mais extraordinário dos quais foram dois bebês adornados com uma espécie de “capacete” ou “chapéu funerário”.

A antropóloga Sara Juengst, autora de um estudo acerca dos túmulos encontrados e professora assistente da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, disse que ela e seus colegas ficaram “muito surpresos” com a descoberta, embora ela não estivesse presente durante a escavação original, liderada pelo co-autor do estudo Richard Lunniss, um arqueólogo da Universidade Técnica de Manabí no Equador.

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Durante as escavações, Luniss “reconheceu rapidamente que havia duas camadas de crânio”, então para ajudar na preservação, ele removeu os sepulcros com os pedaços de solo ao redor intactos, disse Juengst. “Quando analisei os restos mortais em 2017, nós realmente terminamos de escavar os restos mortais no laboratório, o que levou a descobertas mais detalhadas sobre a idade dos indivíduos primários e do crânio extra”, disse ela.

De acordo com o artigo nenhuma das sepulturas foi perturbada antes das escavações, e todos os crânios examinados estavam razoavelmente preservados, exibindo apenas sinais normais de degradação. O capacete exterior feito de um crânio caracterizou bordas retas, o que sugere que eles foram deliberadamente cortados, embora apenas uma marca de corte tenha sido encontrada.

O primeiro bebê analisado tinha cerca de 18 meses de idade quando morreu e foi equipado com um crânio pertencente a uma criança maior entre 4 e 12 anos de idade. O segundo bebê, tinha de 6 a 9 meses no momento da morte foi adornado com um crânio pertencente a uma criança com idade entre 2 e 12 anos de idade. Nenhum dos bebês apresentava sinais de trauma físico e seu sexo não pôde ser determinado. Ambos os crânios juvenis ainda tinham carne quando foram fixados às cabeças dos bebês, de acordo com o estudo.

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Os arqueólogos não conseguiram localizar os corpos dos jovens, nem foram capazes de entender completamente a natureza exata desse estranho ritual funerário, que incluía o depósito de itens ao redor dos corpos, como pedaços extras de crânio, figuras de pedra e bens pessoais.

Os pesquisadores supõem que no contexto daquela civilização, os crânios em forma de capacete fossem uma forma de proteger os bebês em um plano pós morte, já que eles eram vistos como tendo almas “pré-sociais” e “selvagens”.

As pessoas modernas podem ficar horrorizadas com essas descobertas, mas é importante lembrar que nossa concepção de morte é baseada em nossas modernas visões médicas, religiosas e filosóficas. As pessoas de Guangala tinham sua própria concepção do cosmos, do que acontece depois da morte, e do significado dos corpos humanos. Embora sejamos geralmente avessos a lidar com corpos mortos, há muitos precedentes em todo o mundo de culturas que não têm essa aversão.

Não tendo evidências que nos iluminem mostrando o que de fato aconteceu, ou de qual o significado daqueles rituais, é importante não nos precipitar-nos quanto ao julgar essas antigas sociedades.

O artigo científico foi publicado na revista Latin American Antiquity, você pode acessa-lo clicando aqui.

FONTE / Guizmodo

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