Cinco bilhões de pessoas em todo o mundo – especialmente aquelas de comunidades mais pobres – deverão enfrentar, até 2050, um risco crescente de suportar tempestades costeiras, poluição da água e perdas de colheitas ligadas à crise climática causada pelo crescimento das atividades antrópicas.
Artigo de Rebecca CHAPLIN-KRAMER, publicado na revista Science (10/2019), buscou entender e mapear os locais onde a natureza mais contribui para viabilizar a vida das pessoas e quantas pessoas podem ser impactadas pelas mudanças climáticas e pela crise ambiental. Os autores se concentraram em três áreas nas quais a natureza é considerada extremamente benéfica para as pessoas – regulação da qualidade da água, proteção contra riscos costeiros e polinização de culturas – e analisaram como elas podem mudar ao longo das próximas décadas. Foi desenvolvido um mapa interativo para destacar os resultados.
Conhecer a distribuição espacial das áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas e a degradação ambiental é fundamental para orientar a iniciativa privada e as políticas públicas na tarefa de fazer a transição energética dos combustíveis fósseis para as fontes totalmente renováveis e promover a restauração da natureza para ajudar a evitar impactos mais catastróficos do aumento da temperatura e do colapso dos ecossistemas.
O estudo mostra que a atual governança ambiental – nos níveis local, regional e internacional – não está incentivando as regiões mais vulneráveis a investir na recuperação dos ecossistemas. Se o crescimento demoeconômico continuar ao longo do século XXI, a ecologia não será capaz de fornecer o seguro natural diante dos impactos induzidos pelas mudanças climáticas em alimentos, água e infraestrutura. As populações da África e da Ásia serão as mais desfavorecidas pelos “rendimentos decrescentes” da natureza.
Ou seja, o “crescimento sustentado” que é a base do desenvolvimento global – alavancado pelos combustíveis fósseis – gerou uma quantidade astronômica de bens de consumo a serviço do elevado padrão de vida da humanidade, mas ultrapassou a capacidade de carga da Terra. A perda de resiliência ecológica fará a máquina insana de acumulação de riqueza perder a sua base natural e entrar em regressão, pois sem ECOlogia não há ECOnomia.
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A extinção da vida natural e da vitalidade dos ecossistemas pode colocar em xeque a própria existência da humanidade. Por conta disto o movimento “Extinction Rebellion” (Rebelião ou Extinção) busca engajar as pessoas na luta contra o colapso climático e ambiental, evitando o holocausto ecológico e o risco de extinção. O objetivo da “Rebelião da Extinção” é exercer pressão sobre os governantes e fortalecer a sociedade civil no sentido de enfrentar o caos climático e a degradação dos ecossistemas.
O grupo Rebelião ou Extinção tem três demandas centrais: 1) que o governo “conte a verdade à população declarando uma emergência climática e ecológica”; 2) que o governo “zere as emissões de gases de efeito estufa até 2025”; 3) que o governo “crie uma assembleia popular, formada por cidadãos comuns e escolhidos aleatoriamente, e siga suas decisões sobre o meio ambiente”.
Mais de 11 mil cientistas de todo o mundo, de maneira reiterada, alertam a humanidade sobre a ameaça de uma iminente catástrofe ambiental e declararam que o Planeta está enfrentando uma emergência climática. O alerta diz que os cientistas têm uma obrigação moral de alertar claramente a humanidade sobre uma possível ameaça catastrófica que pode provocar “sofrimento humano incalculável” (Alves, 13/11/2019)
O trabalho de Rebecca CHAPLIN-KRAMER (Science, 10/2019) reconhece a situação de emergência climática e é útil para mapear as áreas do mundo mais vulneráveis à crise ambiental, fornecendo instrumentos para se criar políticas para minorar os danos ecológicos que pode afetar cerca de 5 bilhões de pessoas no Planeta.
Este artigo foi publicado originalmente em EcoDebate.