Na década de 1860, o físico John Tyndal observou o efeito de estufa natural da atmosfera terrestre e sugeriu que pequenas transformações na sua composição poderiam resultar em mudanças climáticas. Em 1896, o cientista sueco Svante Arrhenius previu o papel da elevação dos níveis do dióxido de carbono no aquecimento da atmosfera através do efeito estufa.
O que acontece é que a molécula do CO² absorve a energia da radiação infra-vermelha, que a faz vibrar. A molécula então interage com outras moléculas (do mesmo ou de outros gases), antes de liberar essa energia. A energia liberada será então recebida por outra molécula, que irá vibrar ainda mais rápido, aumentando sua temperatura. A temperatura do gás é medida de acordo com a velocidade da vibração de suas moléculas.
Quanto mais gás estiver presente em um ambiente, mais haverá emissão e absorção de energia entre as moléculas desse gás naquele espaço. E, desde o século XIX, os níveis de CO² na atmosfera têm aumentado cada vez mais, e cada vez mais rápido.
O desenvolvimento da tecnologia aeroespacial e da internet permitiu, então, visualizar e avaliar, mais ainda desde o início do século, as mudanças decorrentes desse processo.
Aquecimento Global – se registrou, desde 1890, um aumento médio de 0.9ºC na temperatura da superfície terrestre. Parece pouco, mas em determinadas regiões e épocas do ano, isso é significativo; e em conjunto à poluição e baixa umidade do ar, o calor pode resultar em diversas complicações para a vida selvagem e para os seres humanos, sobretudo crianças e idosos.
A maior parte desse aumento ocorreu nos últimos 35 anos, o que demonstra como o desenvolvimento industrial e agropecuário está intimamente ligado à ele.
Derretimento dos Gelos e Neves, e Aumento no Nível do Mar – o GRACE (Gravity Recovery and Climate Experiment), um projeto conjunto da NASA e do Centro Aeroespacial Alemão, coletou dados que demonstram que só a Groenlândia perdeu 286 bilhões toneladas de gelo por ano! – de 1993 até 2016. No mesmo período, a Antártica perdeu 127 bilhões.
Ao mesmo tempo, as neves presentes nas montanhas – no Alasca, nos alpes, no Himalaia, nas montanhas andinas, etc. – aparecem em menor volume. E a cobertura de neve nos solos após o inverno derrete mais rápido.
O derretimento do gelo nos pólos e das neves nas regiões costeiras causa uma elevação considerável no nível dos mares. Cerca de 20cm no século passado. Novamente, parece pouco, mas é o suficiente para aumentar a ocorrência da invasão de águas marítimas nos litorais habitados; causando enchentes e todos os impactos negativos sanitários e econômicos destas. No Brasil, há relatos frequentes e já podemos contar com trabalhos acadêmicos que aprofundam o estudo sobre esse quadro (cito alguns como referência, ao final desse artigo).
Concomitantemente, o nível de acidez dos oceanos aumentou 30% desde a Revolução Industrial, além da poluição pelo descarte inapropriado de plástico, causando diversos problemas para a vida marinha; o que resulta em diminuição dos estoques de alimento para populações que dependem diretamente dessa fonte.
Eventos Extremos – nos Estados Unidos da América, o número de eventos de temperatura máxima recorde têm aumentado desde 1950, enquanto os de temperatura mínima recorde têm diminuído. Centros de meteorologia no mesmo país têm observado um aumento drástico nas chuvas torrenciais.
E DAQUI A 30 ANOS?
Cientistas estimam que, em 2050, nos EUA, a temperatura média terá aumentado 1.6ºC na mínima do inverno e 2.2ºC na máxima do verão. Isso significa que as médias de muitas cidades nortenhas serão similares às das cidades do sul.
Ainda não encontrei estudos brasileiros que façam estimativas para o nosso território, se você souber de um, poste nos comentários. Mas sabemos que, em boa parte do Brasil, temperaturas acima dos 30ºC são comuns. No verão, facilmente se chega aos 40ºC em muitos lugares do país. Considerando a posição geográfica com relação aos trópicos, imagino que esse aumento seria ainda maior que os 2ºC.
Você pretende estar vivo daqui a 30 anos? E seus filhos, sobrinhos, amigos?
O QUE VOCÊ JÁ PODE FAZER PARA AJUDAR
É mais fácil do que você imagina. Pedindo licença para filosofar um pouco: mudar um padrão comportamental de forma concreta começa com, advinha, a mudança no padrão comportamental de forma concreta. Antes disso é só pensamento. Depois disso, é prática. Comece, você já pode, e você vai ficar melhor nisso a cada dia.
1 – Produza menos lixo plástico.
1.1 – Compre menos alimentos que vêm em embalagens plásticas. Não use canudinhos ou outros produtos de plástico descartável. Você evita produzir lixo e ajuda a estimular uma mudança na indústria, que irá buscar alternativas para comercializar.
1.2 – Separe seu lixo plástico, mesmo que não haja coleta seletiva na região, isso aumenta a chance desse lixo ser coletado e reciclado posteriormente.
2 – Cuidado com o que você come.
2.1 – Não consuma – ou diminua muito o seu consumo – de carne vermelha. As maiores causas de desmatamento, atualmente, são a criação de pastos para o gado e o plantio da soja para consumo animal. Além disso, o processo digestório dos bovinos produz em excesso o CH4 (Metano), que contribui gravemente para o aquecimento global.
Não tenha medo de ficar fraco. Ferro e B12, por exemplo, você encontrará em grande quantidade no feijão e no leite, respectivamente. Lembre-se que monges shaolin são veganos – embora não tenhamos dados que atestem os níveis de vitaminas e minerais em seu sangue, temos dados que atestam seus altos níveis de desempenho físico e sua longevidade.
Lembrando que consumir proteína animal não é garantia de bons níveis em todas as vitaminas. E a B12, vitamina essencial encontrada na carne vermelha e outras fontes de orgiem animal, pode ser facilmente reposta com suplementos sintéticos de baixo custo.
Se você ainda não quer se tornar um vegano, você pode consumir ovos, leite e queijo em quantidade balanceada e já vai ajudar muito.
2.2 – Não consuma (ou reduza o quanto puder) alimentos que usam óleo vegetal de palma (salgadinhos, batatinhas). A indústria do óleo de palma gera desmatamento e queimadas que aumentam muito o nível de CO² na atmosfera, além de pôr em risco de extinção espécies selvagens que viviam nos habitats desmatados.
3 – Use transporte público ou, se não puder fazê-lo, escolha um veículo movido à etanol. E ande a pé.
Isso diminuirá a quantidade de CO² que você vai emitir enquanto se locomove. Muita gente tira o carro da garagem até para ir comprar pão na esquina; não seja essa pessoa. Compre uma bike ou vá a pé.
4 – Fale disso com seus amigos e familiares, e plantem árvores.
Seja o cara chato que apresenta dados científicos na mesa do jantar. Não o faça com muita frequência, nem de modo arrogante ou insistente. Mas o faça. E lembre-se que você não pode mudar os outros, mas você já pode mudar a si mesmo.
Chame sua galera pra tomar uma e cada um planta uma árvore. Claro, faça coleta seletiva das latinhas.
5 – Vote com consciência.
Não vou “fazer jabá” para nenhum partido político aqui. Se você se considera liberal econômico, mas se preocupa com esse problema, tem partido brasileiro nesse espectro. Se você for de centro, tem. Se você for de esquerda, também tem.
Só não tem conservadores, afinal, sem contar raríssimas exceções, conservadores acreditam em muita coisa que falam para eles, mas negam dados coletados e analisados criteriosamente.
Pesquise. Procure políticos que possuem um discurso racional e que demonstram respeito pelo trabalho dos cientistas, e faça sua escolha de forma consciente.
CONCLUSÃO
É isso. A gente já pode ser melhor do que ontem.
Referências
ANAZAVA, Tathiane Maiyumi; FEITOSA, Flávia da Fonseca; MONTEIRO, Antônio Miguel Vieira. Indicadores territoriais de vulnerabilidade socioecológica: uma proposta conceitual e metodológica e sua aplicação para São Sebastião, Litoral Norte Paulista. Em: Mudanças Climáticas e as Cidades, 2013, Ed. Blucher.
AQUECIMENTO Global. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquecimento_global – Acesso em: 18/06/2019.
CARBON Dioxide and Infrared Radiation. In: https://scied.ucar.edu/carbon-dioxide-absorbs-and-re-emits-infrared-radiation – Acesso em: 18/06/2019
CLIMATE Change: How do We Know? – In: https://climate.nasa.gov/evidence/ – Acesso em: 18/06/2019
GRACE. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gravity_Recovery_and_Climate_Experiment – Acesso em: 18/06/2019
BUENO, Laura Machado de Mello. A Adaptação da Cidade às Mudanças Climáticas: uma agenda de pesquisa e uma agenda política. Em: Mudanças Climáticas e as Cidades, 2013, Ed. Blucher.
VARGAS, Marcelo Coutinho. Águas revoltas: riscos, vulnerabilidades e adaptação à mudança climática global na gestão dos recurso hídricos e do saneamento. Por uma política climática metropolitana na Baixada Santista. Em: Mudanças Climáticas e as Cidades, 2013, Ed. Blucher.
WEATHER 2050. In: https://www.vox.com/a/weather-climate-change-us-cities-global-warming – Acesso em: 18/06/2019
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