47.000 brasileiros são hospitalizados todos os anos por exposição às queimadas

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Um incêndio na reserva da floresta amazônica no estado do Pará, Brasil, em 15 de agosto de 2020. Imagem: Carl De Souza / AFP via Getty Images

No ano passado, o número de incêndios florestais no Brasil aumentou em 12,7%. Agora, o maior e mais abrangente estudo até hoje sobre os efeitos dos incêndios na saúde no Brasil revela as graves consequências das queimadas, associando a exposição aos poluentes do fogo ao aumento da hospitalização.

Foram detectados 260 grandes incêndios na Amazônia este ano, queimando mais de 105.000 hectares – uma área aproximadamente do tamanho de Los Angeles, na Califórnia.

Mais de 75 por cento desses incêndios arderam na Amazônia brasileira, em áreas onde foram cortadas árvores para dar lugar à agricultura, apesar da proibição de incêndios ao ar livre não autorizados pelo governo brasileiro em 27 de junho.

O professor Yuming Guo e o Dr. Shanshan Li, da Monash University School of Public and Preventive Health em Melbourne, na Austrália, lideraram um estudo internacional sobre os efeitos destes incêndios na saúde. Os resultados foram publicados hoje no The Lancet Planetary Health.

O estudo encontrou, entre 1 de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2015, um aumento de 10 ug/m3 nas partículas finas relacionadas aos incêndios florestais (PM2,5) no ar foi associado a um aumento de 0,53% nas hospitalizações gerais diretamente relacionadas à exposição aos poluentes do fogo selvagem. Isto corresponde a 35 casos por 100.000 residentes anualmente, o que é cerca de mais de 47.000 brasileiros hospitalizados anualmente pela poluição por incêndios florestais, principalmente nas cidades das regiões norte, sul e centro-oeste. As regiões do nordeste do país apresentavam as taxas mais baixas.

O estudo constatou que as hospitalizações gerais eram “particularmente altas em crianças de quatro anos ou menos, em crianças de cinco a nove anos e em pessoas de 80 anos ou mais”.

O estudo analisou mais de 143 milhões de hospitalizações de 1814 municípios abrangendo quase 80% da população brasileira durante os 16 anos do estudo até o final de 2015, comparando estes dados com os níveis diários de PM2,5 no ar relacionados ao fogo em cada um destes municípios. Mesmo a exposição de curto prazo às PM2,5, as pequenas partículas de fumaça do incêndio podem desencadear asma, ataque cardíaco, derrame, diminuição da função pulmonar, hospitalização e morte prematura.

“Estes dados revelam impactos significativos na saúde dos incêndios, em um momento anterior aos incêndios de 2019 em todo o Brasil captaram a atenção global, seguidos por um período de incêndio igualmente intenso no ano passado”, disse o professor Guo.

Há um aumento dos incêndios em todo o Brasil desde os anos 90, em grande parte devido ao desmatamento e à degradação da floresta por atividades humanas como mineração, exploração madeireira e agricultura. Enquanto as atividades de incêndio geralmente ocorrem durante a estação seca de agosto a novembro, a duração da estação seca é cada vez maior, de acordo com estudos anteriores.

Enquanto a maioria dos incêndios ocorre em áreas remotas do Brasil, “a fumaça tóxica desses incêndios na região amazônica pode subir até 2000 a 2500 km até a atmosfera e percorrer grandes distâncias, ameaçando as pessoas a milhares de quilômetros de distância”, disse o Professor Guo.

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