427 mil pessoas morrem anualmente por falta de polinizadores

As mudanças climáticas e o uso de agrotóxicos estão matando os insetos polinizadores. Mas vamos pagar caro.

Felipe Miranda
Imagem: Pixabay

Abelhas, pássaros e outros insetos e animais polinizam as flores. Isso é essencial para a produção agrícola e para as vegetações naturais — ou seja, essencial para a alimentação e biodiversidade de todo o mundo. Se eles sumissem, a vegetação sumiria também, pois o ser humano não é capaz de realizar a polinização de maneira sintética em uma escala tão grande.

Um novo estudo publicado no periódico Environmental Health Perspectives descreve um grande efeito colateral da perda de polinizadores. E todo esse efeito colateral é culpa única e exclusivamente do ser humano. Nós degradamos a natureza até o ponto em que ela não está mais suportando. Então, agora estamos pagando pelo que fizemos.

Segundo o estudo, houve uma queda entre 3 e 5% na produção de frutas, vegetais e nozes. Por isso, 427 mil mortes anuais devem ocorrer por uma diminuição no consumo de alimentos saudáveis. Essa diminuição no consumo de itens saudáveis está diretamente associada a diversas doenças cardíacas, derrames, diabete e até mesmo ao câncer.

“Uma peça crítica que faltava na discussão sobre biodiversidade tem sido a falta de ligações diretas com a saúde humana. Esta pesquisa estabelece que a perda de polinizadores já está impactando a saúde em uma escala com outros fatores de risco para a saúde global, como câncer de próstata ou transtornos por uso de substâncias”, disse o pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental Samuel Myers, e um dos autores do estudo.

Anualmente, estamos perdendo de 1 a 2% das populações de insetos. É uma verdadeira extinção em massa já iniciada e encaminhada para piorar durante as próximas décadas. Às vezes consideramos pouco a enorme importância desses insetos para a manutenção da vida e do planeta Terra como conhecemos. Mas ela é enorme.

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Imagem: Pixabay.

E bom, esse sumiço está ocorrendo por nossas mãos. Esse apocalipse de insetos, como as essenciais abelhas, ocorrem pela utilização de pesticidas e agrotóxicos nos gerais, além de diferentes manejos da terra que possam ameaçar esses polinizadores naturais. A nossa própria maneira de fazer a agricultura está extinguindo as abelhas. As mudanças climáticas também contribuem para o sumiço desses importantes animais.

Para o estudo, foram utilizados dados coletados de fazendas espalhadas pelo mundo: Ásia, África, Europa e América Latina. Em diversos momentos, a perda de colheitas ocorreu por uma insuficiência na polinização. Então, conseguiram calcular o peso do impacto do sumiço dos polinizadores em relação aos riscos à saúde da população, além do prejuízo econômico em três países.

Algumas conclusões são: a perda na produção de alimentos predomina em países de baixa renda. Apesar disso, entretanto, a piora na saúde era maior entre os países de média e alta renda. Nos países de alta renda, as taxas de doenças não transmissíveis são maiores (como doenças relacionadas ao consumo exagerado de fast food, doenças cardíacas, cerebrais). Os principais afetados nesse quesito são os países de média renda com grandes populações, com é o caso de diversos países asiáticos, como China, Índia e Indonésia.

“Os resultados podem parecer surpreendentes, mas refletem a complexa dinâmica dos fatores por trás dos sistemas alimentares e das populações humanas em todo o mundo. Somente com esse tipo de modelagem interdisciplinar podemos obter uma solução melhor sobre a magnitude e o impacto do problema”, disse no comunicado o pesquisador Timothy Sulser, cientista sênior do International Food Policy Research Institute, coautor do estudo.

Os países de baixa renda chegaram a perder entre 10 e 30% da renda agrícola pela polinização insuficiente, de acordo com as conclusões apresentadas pelos pesquisadores.

“Este estudo mostra que fazer muito pouco para ajudar os polinizadores não prejudica apenas a natureza, mas também a saúde humana”, explica o autor principal da pesquisa, Matthew Smith, cientista pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Harvard T.H. Chan School of Public Health.

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