38 minutos: essa foi a duração da guerra mais curta do mundo

Felipe Miranda
O palácio destruído após a guerra. Imagem: Richard Dorsey Mohun (1865-1915)

Não é a duração de um filme ou documentário sobre uma guerra. 38 minutos foi o tempo de duração da guerra mais curta do mundo. Embora seja registrada historicamente como guerra, o conflito foi ridículo e nem mesmo merece ser chamado de guerra propriamente dita, e hoje você vai entender a razão.

Os dois combatentes da guerra mais curta do mundo

Como boa parte das guerras do mundo moderno, a Guerra Anglo-Zanzibari envolve a Inglaterra — e seu nome já entrega o fato. A Inglaterra dispensa apresentações. Principal membro do Reino Unido, a maior potência do século XIX era extremamente imperialista e possuía territórios em todos os continentes (menos a Antártica, pois é uma zona politicamente neutra). Por esse motivo, a Inglaterra estava envolvida em praticamente todos os conflitos bélicos do século XIX e das primeiras décadas do século XX.

O outro lado do conflito é o antigo Sultanado de Zanzibar, um pequeno protetorado do Reino Unido no arquipélago de Zanzibar, que localiza-se na costa da África Ocidental.

O Sultanato de Zanzibar existiu entre os anos de 1856 e 1963. No ano de 1963, o sultanato conquistou a sua independência da Inglaterra e se tornou uma monarquia constitucional, mas rapidamente, já em 1964, o sultão foi deposto do cargo.

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Localização de Zanzibar. Imagem: Wikimedia Commons

Após a destituição do sultão, Zanzibar se uniu ao Tanganica para a formação, ainda em 1964, da Tanzânia, país soberano ainda existente nos dias de hoje. Hoje, o Zanzibar é um território de duas ilhas com o status de estado semiautônomo pertencente à Tanzânia.

A guerra mais curta do mundo

Embora pequena, Zanzibar possuía certa importância e certo poder na África. O país exportava marfim e especiarias e recebia armas e têxteis. Além disso, o comércio mais lucrativo de Zanzibar era o de escravos africanos. Sim, os próprios africanos vendiam uns aos outros como escravos.

Entre 25 e 30 mil pessoas foram traficadas como e escravos até os anos 1880, segundo estimativas.

No ano de 1890, Zanzibar se tornou um protetorado britânico por meio de um acordo entre a Grã-Bretanha e a Alemanha.

Com isso, os britânicos colocaram como novo sultão Hamad bin Thuwaini. A ideia era ter um sultão fantoche. Assim, eles poderiam combater o comércio de escravos.

Vale ressaltar que os ingleses não combateram a escravidão porque eram bonzinhos e contra a exploração de negros e indígenas. Eles combateram a escravidão porque queriam mais assalariados que pudessem consumir, já que o país era a maior potência industrial do mundo.

Thuwaini passou a governar o país a partir de 1893 e morreu em 1896. O próximo sultão foi Khalid bin Barghash, que era sobrinho de Thuwaini. Há quem diga que Bargash matou seu tio envenenado.

Entretanto, Barghash não foi um escolha dos britânicos, até porque o sultão não gostava deles e vice-versa. Os britânicos desgostavam de Barghash porque ele era independente demais, e não poderia ser feito como um fantoche, da mesma maneira que faziam com seu tio.

Dessa maneira, os britânicos recorreram a um artifício diplomático extremamente comum: a Diplomacia das canhoneiras, que foi, por exemplo, utilizada para a abertura do Japão. Se você conhece a história do Japão, sabe que essa “diplomacia” não é exatamente diplomática. Nela, basicamente, o agressor utiliza da demonstração do poder de fogo para realizar suas vontades.

A guerra mais curta do mundo.
Ilustração dos navios ingleses. Imagem: Ian Hernon / Wikimedia Commons

Nesse caso, os ingleses apontaram os canhões de três navios para o palácio do sultão. A requisição do ato era que ele deixasse o palácio do governo às 09h00 do dia seguinte.

Às 08h00, então, Bargsash informou ao Cônsul britânico: “Não temos intenção de puxar nossa bandeira e não acreditamos que você abriria fogo contra nós”. Milhares de pessoas (em sua maioria civis e escravos) foram colocados a postos, com artilharia pesada.

Às 09h00, os ingleses abriram fogo e bombardearam o palácio por 38 minutos. A guerra mais curta do mundo durou pouco tempo mas matou bastante gente. Cerca de 500 zanzibarianos morreram. Entre os ingleses, apenas um marinheiro se feriu.

Barghash se refugiou no consulado alemão e desapareceu. Assim, os ingleses instituíram um novo sultão em Zanzibar. No ano de 1897, o novo sultão proibiu o comércio de escravos no país e a vontade britânica foi finalmente realizada.

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