Uma ‘anomalia climática’ pode ter tornado a Primeira Guerra Mundial mais mortal

Amanda dos Santos
(Imagem: Unsplash)

Uma estação meteorológica pior do que o normal pode ter tido um impacto importante no número de mortos da Primeira Guerra Mundial e da pandemia de gripe espanhola de 1918, de acordo com uma nova pesquisa. Essa ‘anomalia climática’ pode ter causado um maior número de mortes devido a chuvas torrenciais e queda de temperatura.

Do mesmo modo, os cientistas observaram de perto os padrões climáticos na Europa entre 1914 e 1919, relacionando-os à guerra e à pandemia pela primeira vez. A análise detalhada foi realizada por meio de um núcleo de gelo extraído dos Alpes suíço-italianos.

Condições incomuns de chuva e frio

A ‘anomalia climática’ ocorrida no período da Primeira Guerra Mundial através das condições incomuns de chuva e frio podem ter contribuído para a perda de mais vidas no campo de batalha.

Bem como essas condições incomuns modificaram o comportamento de migração de pássaros – potencialmente aproximando pássaros e pessoas do que estariam de outra forma.

foto do estudo GeoHealth.

O cientista climático Alexander More, da Universidade de Harvard, disse que a circulação atmosférica mudou e houve muito mais chuva e um clima muito mais frio em toda a Europa durante seis anos.

Neste caso particular, foi uma anomalia climática ocorrida uma vez em 100 anos justamente na mesma época da Primeira Guerra Mundial e coincidindo com a gripe espanhola.

Ele ressalta que essa não foi a ‘causa’ da pandemia também, mas certamente foi um potencializador, um fator agravante adicional a uma situação já explosiva.

Juntamente com os relatos de condições atrozes nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, a chuva e a lama já foram bem documentadas.

Mas essas nova pesquisa relaciona essas condições com novos padrões ambientais que ocorrem uma vez em um século.

Análise detalhada

A princípio, traços de sal marinho preso no núcleo de gelo revelaram influxos extremamente incomuns de ar no oceano Atlântico e chuvas associadas nos invernos de 1915, 1916 e 1918, o que coincidiu com picos nas taxas de mortalidade no campo de batalha europeu.

pandemia

Estima-se que cerca de 10 milhões de militares morreram na Primeira Guerra Mundial no total. Portanto, problemas como pé de trincheira e ulcerações pelo frio agravaram as condições constantemente úmidas.

Enquanto os atoleiros criados no campo de batalha tornavam muito mais difícil recuperar e resgatar os soldados feridos.

Da mesma forma, afogamento, exposição e pneumonia custaram ainda mais vidas.

O arqueólogo Christopher Loveluck, da Universidade de Nottingham no Reino Unido, descobriu que a associação entre condições mais úmidas e mais frias e o aumento  da mortalidade foi especialmente forte de meados de 1917 a meados de 1918.

Então, esse período atinge igualmente a terceira batalha de Ypres até a primeira onda de gripe espanhola.

Além de piorar as condições ruins para os soldados, os pesquisadores sugerem que essa anomalia climática pode ter desempenhado um grande papel na criação do ambiente perfeito para a cepa da gripe H1N1.

Esse ambiente desencadeou uma segunda onda mais mortal da gripe espanhola e que se intensificou no final da guerra.

Ou seja, condições anti-higiênicas com a aproximação atípica de pássaros no campo de batalha devido a migração, maior propagação do vírus e transmissão da cepa mais virulenta da gripe que matou 2,64 milhões de pessoas na Europa podem ter causado um impacto muito mais mortal a esse período do século.

A pesquisa foi publicada na GeoHealth.

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