Um litro de água engarrafada pode conter 240.000 microplásticos

Damares Alves
Imagem: Romolo Tavani

Os microplásticos e os nanoplásticos representam ameaças ambientais significativas devido à sua persistência e difusão. Essas partículas de polímero sintético se dividem em tamanhos que são difíceis de detectar – algumas chegam a 100 nanômetros, menos do que a largura de um fio de cabelo humano.

Os cientistas descobriram que tanto o ar que respiramos quanto a água que consumimos estão contaminados com esses minúsculos fragmentos de plástico. O problema se estende à vida selvagem, com imagens alarmantes mostrando animais emaranhados em redes descartadas ou consumindo resíduos plásticos, prejudicando inadvertidamente ou até mesmo acabando com suas vidas.

Uma gaivota se alimentando de plástico
Imagem: Ilie Barna / Pixabay

Avanços recentes nos métodos de detecção trouxeram um avanço, permitindo uma avaliação mais precisa da presença de partículas de plástico em vários ambientes.

Um estudo recentemente publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences introduziu uma técnica que identifica rapidamente o tamanho e a composição dessas minúsculas partículas de plástico. Surpreendentemente, uma média de 240.000 partículas de plástico foram descobertas em um único litro de água engarrafada – mais do que as estimativas anteriores.

Cerca de 10% das partículas detectadas pertenciam a sete plásticos comuns. Os outros 90% eram polímeros não identificados.

Esse novo método, chamado de microscopia de dispersão Raman estimulada, combina dois lasers para analisar fragmentos de plástico. Quando direcionado a uma amostra, esse laser duplo faz com que os átomos das partículas vibrem de uma forma que pode ser registrada e identificada. Esse processo é significativamente mais rápido do que os métodos de detecção anteriores, revolucionando a forma como avaliamos a extensão da contaminação por micro e nanoplásticos.

Ferramenta para identificar nanoplastico
Os pesquisadores direcionaram dois lasers para a água engarrafada para detectar quantas partículas de plástico ela continha. Imagem: Naixin Qian

“Isto é realmente um avanço”, afirma Sherri Mason, diretora de sustentabilidade da Universidade Estadual da Pensilvânia em Erie, o Behrend College, que não esteve envolvida na pesquisa. “Se não conseguirmos detectar as partículas, não poderemos estudá-las. É por isso que este estudo é tão importante.”

Atividades cotidianas, como caminhar sobre tapetes sintéticos, manusear recipientes plásticos ou dirigir automóveis, adicionam pedaços microscópicos de plástico ao meio ambiente.

“O plástico é muito mais parecido com a pele do que imaginamos”, diz Mason. “Assim como a pele, ele está constantemente descamando.”

Os impactos à saúde dessas partículas estão apenas começando a vir à tona, com estudos demonstrando que os nanoplásticos produzidos em laboratório têm efeitos adversos sobre o sistema imunológico, o metabolismo e podem potencialmente desencadear a autodestruição das células. Experimentos com camundongos indicam que a exposição a nanoplásticos pode aumentar o risco de doença de Parkinson, interromper o desenvolvimento fetal e até mesmo permear o tecido cerebral.

Diferentes tipos de plástico se manifestam em formas e tamanhos variáveis, revelando identificadores exclusivos que sugerem sua origem. Por exemplo, o tereftalato de polietileno (PET) geralmente aparece como fragmentos maiores de tamanho micrométrico, um subproduto das próprias garrafas PET. Por outro lado, os nanoplásticos menores provavelmente se originam de estágios anteriores da produção e são decompostos ao longo do tempo. A poliamida e o poliestireno, usados em membranas de estações de tratamento de água, também aparecem predominantemente como nanopartículas.

A pesquisa não apenas abriu caminho para novas estratégias analíticas, mas também destaca a diversidade e a complexidade da contaminação por nanoplásticos. Essas percepções são essenciais para a elaboração de estratégias mais eficazes de redução de micro e nanoplásticos no tratamento de água e em outras áreas, ajudando a mitigar os riscos ambientais e à saúde que eles representam.

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