Cientistas ao redor do mundo têm debatido por mais de uma década se as atividades humanas alteraram a Terra a ponto de estarmos vivendo em uma nova época climática.
Esse debate girou em torno da proposta de que a humanidade deu início ao Antropoceno, um novo capítulo na história da Terra marcado pelo impacto humano no planeta.
Após anos de pesquisa e discussão, a proposta foi rejeitada por um órgão de alto nível de geólogos, uma decisão que tem ramificações tanto científicas quanto políticas.
Para argumentar a favor do Antropoceno, geólogos precisavam encontrar um “pico dourado” – um local físico onde a mudança de uma época para outra estivesse claramente registrada nas rochas, sedimentos ou gelo.
Diversos locais pelo mundo foram considerados, desde um pântano na Polônia até um recife de coral na Austrália e o gelo da Antártica.
Em 2023, os geólogos anunciaram que haviam encontrado esse local no Lago Crawford, em Ontário, Canadá, onde sedimentos desde meados do século 20 registravam claramente os subprodutos da atividade humana.
Apesar da descoberta, a ideia de reconhecer nosso intervalo atual como uma nova época geológica gerou controvérsia.
Alguns cientistas argumentaram que, dada a brevidade do período em comparação com épocas geológicas anteriores, não faria sentido atribuir-lhe a mesma designação.
Além disso, houve desacordo sobre quando exatamente o Antropoceno teria começado, com sugestões variando desde o início da Revolução Industrial até a origem da agricultura.
A luta pelo reconhecimento do Antropoceno vai além de uma disputa semântica; ela reflete um debate político sobre como interpretamos as ações humanas no planeta.
O termo “Antropoceno” já é amplamente utilizado e compreendido, figurando em livros didáticos, exposições de museus e até na música.
Enquanto alguns cientistas se sentem desconfortáveis em usar o rótulo do Antropoceno para fazer uma declaração política, outros veem isso como uma oportunidade para conscientizar sobre as mudanças climáticas.
Porém, a Subcomissão de Estratigrafia do Quaternário rejeitou a classificação do Antropoceno como uma nova época. Sua decisão foi confirmada pelo órgão superior, a União Internacional de Ciências Geológicas (UICG).
Apesar dessa decisão oficial, alguns cientistas, como Francine McCarthy da Brock University no Canadá, insistem que “estamos no Antropoceno, independentemente de uma linha na escala de tempo”, e que reconhecer e agir de acordo com isso é o único caminho a seguir.