Cientistas descobrem túneis que conectam o crânio ao cérebro

Dominic Albuquerque
Exibição dos túneis que conectam o crânio ao cérebro Imagem: Herrison et al., Nature Neuroscience, 2018

Cientistas descobriram túneis que conectam o crânio ao cérebro. A pesquisa foi feita para compreender o que ocorre em eventos como AVC, distúrbios cerebrais ou acidentes. O estudo mostra que esses pequenos túneis conectam a medula óssea do crânio ao revestimento do cérebro.

É possível que eles forneçam uma rota direta para células imunes em direção ao cérebro quando ocorre danos. Anteriormente, os cientistas acreditavam que as células imunes eram transportadas através da corrente sanguínea, vindas de outras partes do corpo para lidar com a inflamação cerebral após os casos citados acima.

O estudo, publicado em 2018 na revista Nature Neuroscience, mostra que a situação é diferente.

Como são os túneis que conectam o crânio ao cérebro

O estudo inicial foi feito com camundongos. A descoberta sobre os túneis ocorreu quando uma equipe de pesquisadores começou a analisar se as células imunes que vão para o cérebro após um AVC ou meningite se originam do crânio, ou dos ossos maiores da canela, a tíbia.

A célula estudada foi o neutrófilo, cujo grupo é o primeiro a responder do sistema imunológico. Quando algo dá errado, essas são as primeiras células enviadas até a região, com o objetivo de mitigar o que está causando a inflamação.

A equipe desenvolveu uma técnica que marca as células com corantes de membrana fluorescentes, que funcionam como rastreadoras. Após criar as células com o corante, eles as injetaram em regiões da medula óssea de camundongos.

As células marcadas de vermelho foram injetadas no crânio, e as marcadas de verde, na tíbia. Depois que as células se acomodaram, os pesquisadores induziram diversas formas de inflamação aguda, incluindo AVC e meningoencefalite.

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As células com o corante de membrana. Imagem: Herrison et al., Nature Neuroscience, 2018

Eles descobriram que o crânio contribuía mais significativamente para o transporte dos neutrófilos em direção ao cérebro quando comparado à tíbia. Mas em seguida, isso gerou a questão: por onde eles passam?

“Começamos a examinar o crânio com muito cuidado, olhando-o de todos os ângulos, tentando descobrir como os neutrófilos chegavam ao cérebro”, disse Matthias Nahrendorf, da Faculdade de Medicina de Harvard.

“Inesperadamente, descobrimos pequenos canais que conectam a medula diretamente ao revestimento externo do cérebro”.

Usando microscopia em banho de órgãos – que usa uma câmera contendo uma solução que mantém a integridade do tecido isolado enquanto ele é examinado – a equipe analisou da superfície interna do crânio de um camundongo.

Lá, eles descobriram canais vasculares microscópios conectando a medula do crânio com a membrana dura envolvendo o cérebro.

Normalmente, glóbulos vermelhos passam por esses canais pelo interior do crânio para a medula óssea; mas, no caso de um AVC, a descoberta mostrou que eles eram mobilizados para transportar os neutrófilos na direção oposta, da medula para o cérebro.

O estudo em humanos

Após a revelação, o estudo foi realizado em humanos. Para descobrir se o processo funcionava da mesma maneira, os pesquisadores adquiriram pedaços de crânios humanos oriundos de cirurgias e fizeram imagens detalhadas.

Eles perceberam que havia canais no crânio humano, também, cinco vezes maiores em diâmetro do que os canais nos crânios dos camundongos, tanto nas camadas internas como externas do osso.

Desde a descoberta dos pequenos túneis que conectam o crânio ao cérebro, os pesquisadores estudaram mais a fundo o caso em camundongos. Em 2021, confirmaram que a conexão que eles criam até a medula óssea significa que os glóbulos vermelhos fazendo a viagem não se originam da corrente sanguínea, mas são produzidos diretamente na medula próxima. Ou seja, são muito específicos e localizados.

É uma descoberta surpreendente, que pode trazer avanços importantes nos estudos sobre os mecanismos que ocorrem durante diversos tipos de distúrbios cerebrais. Além disso, pode ajudar a entender condições como esclerose múltipla, onde o sistema imunológico ataca o cérebro.

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