Tubarões dormem de olhos abertos, aponta estudo

Dominic Albuquerque

Evidência científica de tubarões dormindo foi documentada na Austrália pela primeira vez; a pesquisa indica que, de fato, os tubarões dormem de olhos abertos.

Uma equipe de cientistas observou o sono da espécie Cephaloscyllium isabellum, endêmica da Austrália e habitante das profundezas marinhas.

Os pesquisadores analisaram o metabolismo e postura do animal. Segundo o líder do estudo, publicado na Biology Letters, Dr. Michael Kelly da La Trobe University, havia evidência anedótica de sono em tubarões, a maioria observada por mergulhadores.

“Do ponto de vista científico, quantitativamente, isso nunca tinha sido pesquisado”, disse ele.

Cientistas já sabiam que tubarões não dormem ou descansam da mesma maneira que mamíferos: por exemplo, alguns tubarões precisam nadar constantemente, inclusive durante o sono, para manter a água com oxigênio fluindo em suas brânquias. Isso apontaria não para um sono, mas um “descanso”.

Mas o novo estudo expande a concepção.

Como os tubarões dormem de olhos abertos

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Os pesquisadores analisaram o metabolismo e postura da espécie C. isabellum. A análise indica que os habitantes das profundezas de fato dormem. Imagem: John Turnbull/www.marineexplorer.org

A equipe monitorou sete tubarões C. isabellum num período de 24 horas, e descobriu que o metabolismo deles – medido de acordo com o consumo de oxigênio – diminuía durante períodos de inatividade mais longos que cinco minutos.

“Nós sabemos que uma diminuição no metabolismo é um sinal revelador de sono em muitos, muitos outros animais”, disse Kelly.

Quando os tubarões ficavam inativos por cinco minutos ou mais, seu metabolismo diminuía para menos do que quando estavam em descanso desperto ou em movimento ativo. Além disso, os animais também mudavam a postura corporal durante o sono, deitando-se de maneira plana.

Os cientistas observaram que os tubarões costumavam fechar seus olhos nesses períodos de sono, mas 38% deles mantinham os olhos abertos. Fechar os olhos era, também, mais comum durante o período diurno, disseram os autores. Isso sugere que a ação tinha uma relação maior com o nível da luz do que com o sono em si.

Essa espécie de tubarão consegue se manter imóvel por extensos períodos de tempo, graças aos bombeadores bucais (músculos faciais) que mantêm a água oxigenada fluindo em suas brânquias enquanto eles permanecem quietos.

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Foto exibindo tubarões nadando. Algumas espécies precisam continuar nadando durante o sono. (Imagem: DIGTIALSTORM/GETTY IMAGES)

Outras espécies de tubarão, como o tubarão-branco, não possuem essa bomba, e por isso precisam continuar nadando para manter a água com oxigênio se movimentando até o interior de suas bocas e para as guelras.

Os tubarões da espécie estudada são predadores de emboscada. Quando acordados e inativos, eles estendem as barbatanas peitorais e sentam-se com a cabeça erguida, disse Kelly.

O cientista já tinha estudado indicadores comportamentais de sono em tubarões antes. “Quando esses animais ficam inativos por cinco minutos ou mais, é necessária uma quantidade maior de estímulo para provocar uma reação neles”, explicou o pesquisador.

A teoria de que se precisa estar quieto para dormir já foi derrubada antes, apontou ainda o líder do estudo. Isso significa, por fim, que os tubarões dormem de olhos abertos, de fato.

“Ficar quieto não é critério para o sono. Nós vemos isso em mamíferos marinhos – baleias e golfinhos são capazes de continuar nadando e dormir… Sabemos que pássaros são capazes de continuar voando e dormir”.

Ainda há muito a ser descoberto, então entender como o processo do sono acontece com os tubarões pode fornecer pistas sobre como a nossa própria capacidade de dormir se desenvolveu. Por serem do primeiro grupo de vertebrados com mandíbulas, os tubarões representam um grupo ancestral para muitos animais que dependem do sono para conservação da energia e outros processos fisiológicos importantes.

“Pesquisas futuras devem focar em outros indicadores fisiológicos do sono, como mudanças na atividade cerebral, para um retrato mais completo do sono nesses vertebrados”, a equipe concluiu.

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