Transplante de microbiota fecal reverteu envelhecimento em ratos

Mateus Marchetto
Imagem: Free-Photos / Pixabay

Um ser humano tem mais genes de microrganismos do que os seus próprios. Não necessariamente dentro de suas células, mas em seu microbioma. Uma pesquisa indica, agora, que este mesmo microbioma pode reverter o envelhecimento – ao menos em ratos.

Nas últimas décadas, a importância da microbiota ficou muito evidente na pesquisa científica e na mídia. Contudo, há mais de um século, pesquisadores já imaginavam isso. Pesquisas indicam que os microrganismos presentes em nossos intestinos podem ajudar na prevenção de infecções, tumores e doenças neurodegenerativas.

Nesse sentido, uma nova pesquisa publicada na Nature Aging indica que a microbiota pode, talvez, reverter o envelhecimento. Isso porque, no estudo, ratos que receberam uma microbiota jovem apresentaram também um aparente rejuvenescimento de seus cérebros.

Para testar isso, os autores realizaram transplantes da microbiota fecal de ratos de diversas idades, divididos em grupos. Um grupo tinha ratos mais jovens, entre 3 e 4 meses de idade. Já outros dois grupos tinham roedores mais idosos, entre 19 e 20 meses de idade.

Um dos grupos de ratos mais velhos recebeu transplantes fecais ambos dos ratos mais jovens e mais velhos. Ou seja, alguns ratos idosos receberam uma microbiota jovem, enquanto outros receberam uma mais velha.

Surpreendentemente, os ratos que receberam o transplante de animais jovens apresentaram melhores desempenhos cognitivos, respostas a inflamação e menos ansiedade, na média.

Inflamação e envelhecimento

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Bactérias são os principais componentes da microbiota humana, acompanhadas também por fungos e protozoários. Imagem: Gerd Altmann / Pixabay 

A inflamação é um dos principais fatores fisiológicos do envelhecimento. Naturalmente, a inflamação é uma resposta do corpo a uma patologia, que auxilia o sistema imune na eliminação do problema.

Contudo, com o passar da idade, a resposta inflamatória fica cada vez mais disfuncional. Respostas inflamatórias muito agudas podem até causar a morte de uma pessoa, por exemplo. Doenças como a artrite e o Alzheimer são profundamente relacionadas a um processo inflamatório.

Por esse motivo, a redução da inflamação nos ratinhos é um resultado animador na pesquisa do envelhecimento. A ansiedade e o estresse, ademais, são bastante prejudiciais para a saúde – todo mundo que já passou por um final de mês estressante no trabalho ou uma semana de provas sabe disso.

Esta nova pesquisa, indica, portanto, que uma microbiota saudável pode ter um papel direto na redução dos danos causados pelo envelhecimento. Mais teoricamente, o rejuvenescimento do cérebro também pode estar no horizonte.

Todos estes resultados, vale ressaltar, são bastante preliminares e é preciso ter cautela por um motivo: ratos não são humanos. Ainda que nosso amigos roedores sejam muito semelhantes a nós, estes resultados são apenas uma evidência – dentre inúmeras – do importante papel da microbiota humana.

Ainda assim, os resultados são animadores para possíveis novos tratamentos e prevenções às patologias ligadas ao envelhecimento.

A pesquisa está disponível no periódico Nature Aging.

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