Microbiota especial pode ser um dos segredos para a longevidade

Mateus Marchetto
Imagem: Pavlofox / Pixabay

Em dezenas de pesquisas e estudos, a microbiota humana acaba associada com uma melhor qualidade de vida. Nesse sentido, uma pesquisa da University School of Medicine, em Tóquio, acaba de indicar que a microbiota pode ter uma relação forte com a longevidade acima dos 100 anos.

Para avaliar qualquer possível relação entre a microbiota e a idade máxima de vida, os pesquisadores analisaram os microrganismos intestinas de pessoas de diferentes idades. 160 indivíduos na pesquisa tinham pelo menos 100 anos (107 em média) e 112 tinham entre 85 e 89 anos. Ademais, os pesquisadores coletaram micróbios de 47 pessoas mais jovens, entre 21 e 55 anos.

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Imagem: WikiImages por Pixabay 

A descoberta é que as pessoas acima de 100 anos possuíam quantidades significativas de um tipo de bactéria e um subproduto destes microrganismos. Assim, o grupo de bactérias Odoribacteraceae, de acordo com a pesquisa, auxilia na produção de ácidos secundários da bile, como veremos mais à frente. Ademais, as bactérias tabém produzem enzimas que têm potencial para combater possíveis patógenos.

Ainda assim, os autores recomendam cautela com os resultados. “Ainda que isso possa sugerir que essas bactérias produtoras de ácido da bile possam contribuir com tempos de vida mais longos, nós não temos nenhum dado mostrando a relação causa-e-efeito entre eles,” afirma a doutora Kenya Honda, uma das autoras do estudo ao Live Science.

Possíveis mecanismos de longevidade pela microbiota

O fígado, dentre outras funções produz a bile: um conjunto de ácidos e substâncias que auxiliam na digestão e absorção de gorduras. Esse líquido amarelado passa pela vesícula biliar e acaba secretado no intestino.

De acordo com uma pesquisa de 2009, no intestino a microbiota converte bile em ácidos biliares secundários. Assim, os pesquisadores do novo artigo notaram altos níveis destes ácidos nos intestinos de pessoas cima de cem anos (níveis até mais altos do que nos mais jovens). Especialmente o ácido isoalloLCA demonstrou uma significativa capacidade de combater microrganismos patogênicos – inclusive alguns resistentes a antibióticos.

Clostridioides difficile e Enterococcus faecium são duas bactérias que parasitam o intestino humano e podem causar, dependendo do caso, infecções sérias. Acontece que isoalloLCA reprimiu o crescimento de ambas as bactérias em placas de Petri, sendo as duas resistentes a antibióticos e, portanto, dificilmente tratáveis.

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Colônias de bactérias em uma placa de Petri. Imagem: nadya_il por Pixabay 

Mais uma vez, a correlação direta entre a produção destes ácidos pelas bactérias, o combate a microrganismos e a longevidade não está clara. Contudo, caso novos estudos comprovem essa sugestão, novos tratamentos para infecções resistentes podem chegar ao mercado. Mesmo novos probióticos, como aqueles presentes no iogurte, podem acabar surgindo e, talvez, estendendo nosso tempo de vida.

O artigo está disponível no periódico Nature.

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