Bactérias do rúmen de vacas podem digerir plástico, mostra estudo

Mateus Marchetto
Esta pesquisa sugere que microrganismos do rúmen de vacas podem digerir PET, PBAT e PEF. Imagem: Christian B/Pixabay

Praticamente todos os animais dependem de uma microbiota. Os ruminantes, especificamente, têm microrganismos associados que são essenciais para a digestão dos seus alimentos. Todavia, uma nova pesquisa acaba de mostrar que alguns destes microrganismos podem digerir plástico.

Para tanto, os pesquisadores coletaram o líquido do rúmen de vacas de um abatedouro em Viena. Rúmen, vale lembrar, é um dos 4 compartimentos que funcionam como estômago dos ruminantes. Especificamente esta porção é bastante rica em bactérias.

Depois da coleta, então, os pesquisadores colocaram este líquido do rúmen em compartimentos com diversos tipos de plástico. Ademais, os autores testaram o plástico em duas formas: moído, formando um pó, e em forma de plástico filme (como aqueles plásticos usados para embalar alimentos).

plastic cups 973103 1920 1
Imagem: Pixabay 

O resultado mais animador é que as bactérias conseguiram digerir plástico de três tipos: PET, PBAT e PEF. O PET é um dos principais tipos de plástico hoje, presente em garrafas e embalagens – sendo um dos maiores poluentes também. O PBAT e o PEF são dois tipos de plásticos já conhecidos por sere relativamente biodegradáveis.

Análise genética do rúmen das vacas

Para dar sequência à pesquisa, os autores identificaram quais espécies de microrganismos realmente estava digerindo o plástico. Assim, eles conduziram um sequenciamento genético do material presente no líquido do rúmen.

O resultado da análise mostrou, por conseguinte, que 98% do DNA presente no líquido pertencia a bactérias, principalmente aquelas do gênero Pseudomonas sp. Estas bactérias, aliás, já se mostraram promissoras para digerir plástico anteriormente.

koli bacteria 123081 1920
Imagem: Pixabay 

Além do mais, 1% do DNA pertencia a fungos e outros 1% a Árqueas. Todavia, o papel principal da digestão provavelmente fora das bactérias.

De acordo com a pesquisa, estes resultados podem ter ocorrido devido a uma enzima: uma cutinase. Lembre-se: uma enzima é uma proteína com funções catalisadoras. Ou seja, ela acelera processos que aconteceriam muito lentamente ou nem aconteceriam de forma natural.

Naturalmente, inclusive, a cutinase tem a função de digerir a cera presente a superfície de vegetais e plantas (cutina). Algumas bactérias e fungos podem produzir a enzima, então, para aproveitarem os nutrientes de vegetais. Acontece que a cutinase acaba quebrando este polímero, facilitando bastante a degradação do resto.

Segundo os autores, portanto, isso provavelmente ocorre também com os plásticos, que são polímeros sintéticos. No entanto, ainda é preciso encontrar uma forma de utilizar e escalonar esses microrganismos de forma prática.

O artigo está disponível no periódico Frontiers in Bioengineering and Biotechnology.

Compartilhar