Paternidade muda o cérebro dos homens, segundo ressonância

Embora não experimentem a gravidez diretamente, os homens também passam por alterações importantes por conta da paternidade.

Daniela Marinho
Imagem: Canva

A ciência já comprovou que a gravidez altera a conjuntura cerebral das mulheres, apontando mudanças significativas na anatomia do cérebro antes e após a gestação. Nesse contexto, embora não experimentem a gravidez diretamente, os homens também passam por alterações importantes por conta da paternidade, de acordo com exames de ressonância magnética.

Se por um lado, os neurocientistas já sabem que os cérebros das mães mudam de formas inclinadas para o cuidado dos novos bebês; por outro lado, eles investigaram os cérebros dos pais e encontraram resultados surpreendentes, sequer imaginados antes.

Cérebro dos homens muda com a paternidade

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Nos últimos 50 anos, nos Estados Unidos, o tempo que os pais dedicam para os filhos quase triplicou. Em países que expandiram a licença paternidade remunerada ou criaram incentivos para que os pais saiam de licença, como Alemanha e Suécia, o envolvimento dos pais na criação dos filhos é ainda maior.

Outro dado interessante é que crianças com pais engajados têm um melhor desempenho em diversas áreas, incluindo o desenvolvimento cognitivo e a saúde física, como indicam várias pesquisas.

Tendo em vista a crescente participação dos pais na criação dos filhos, a importância da presença paterna para a constituição psíquica da criança e a ausência de estudos científicos que abordam o tema, sobretudo quais são as mudanças biológicas que apoiam a paternidade, pesquisadores investigaram de que forma a paternidade remodela o cérebro dos homens que não têm a experiência da gravidez como as mulheres.

O estudo, publicado na Oxford Academic, apresenta considerações importantes acerca das mudanças cerebrais nos pais de primeira viagem. Conforme a pesquisa indica, as “Evidências emergentes apontam para a transição para a paternidade como uma janela crítica para a plasticidade neural adulta. Estudar pais oferece uma oportunidade única para explorar como a experiência parental pode moldar o cérebro humano quando a gravidez não é vivenciada diretamente.”

Transição para a paternidade

Não são apenas as mulheres — que se tornam mães biológicas — a passarem por mudanças hormonais na gestação que alteram seus cérebros, os homens também vivenciam estágios importantes por conta da transição para a paternidade.

Segundo os pesquisadores, “Testamos se a transição para a paternidade acarretava mudanças anatômicas no volume, espessura e área corticais cerebrais e nos volumes subcorticais. Encontramos tendências sobrepostas de reduções de volume cortical dentro da rede de modo padrão e redes visuais e preservação de estruturas subcorticais em ambas as amostras de pais pela primeira vez, que persistiram após o controle da idade dos pais e das crianças na varredura pós-natal.”

Desse modo, a transição para a paternidade pode representar uma janela significativa de neuroplasticidade estrutural ou remodelação do cérebro como resultado da experiência paterna.

Plasticidade cerebral

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Os neurocientistas chamam de plasticidade cerebral induzida pela experiência as mudanças cerebrais que ocorrem devido ao aprendizado de uma nova habilidade, como a experiência de cuidar de um bebê ou quando se aprende um novo idioma.

Esse tipo de plasticidade em pais que vivenciam as demandas cognitivas, físicas e emocionais de cuidar de um recém-nascido sem passar pela gravidez é visualizado por diversos estudos. Pais homossexuais masculinos — cuidadores primários — apresentam conexões mais fortes entre as regiões cerebrais parentais ao ver seus bebês, quando comparados com cuidadores secundários masculinos.

Resultados da pesquisa

A pesquisa foi realizada com 40 homens, sendo 20 na Espanha e 20 na Califórnia. Exames de ressonância foram realizados duas vezes: durante a gravidez da parceira e novamente depois que o bebê completou 6 meses. Também foi incluído um grupo de controle de 17 homens sem filhos.

Os resultados mostraram que o grau de plasticidade cerebral dos pais pode estar relacionado com o quanto eles interagem com o bebê, visto que o envolvimento paterno varia muito entre os homens. Dessa forma, o envolvimento pode explicar a diferença das mudanças cerebrais entre homens e mulheres, pois as mudanças cerebrais dos pais foram quase metade da magnitude das mudanças observadas nas mães.

Estudos posteriores poderão assinalar com mais propriedade qual o melhor caminho de intervenção com os pais que podem estar em risco de ter problemas para se ajustar ao papel parental, visto que a importância dos pais para o desenvolvimento infantil é extrema.

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