É assim que as crianças sabem se as pessoas compartilham um vínculo especial, e é nojento

Lorena Franqueto
Imagem por fancycrave1/Pixabay.

O ato de compartilhar comida com pessoas próximas é muito comum na sociedade. Mas, geralmente, esse ato é incomum entre estranhos ou simplesmente colegas. Um novo estudo, publicado na Science, indica que bebês e crianças compreendem o compartilhamento de saliva entre pessoas como um vínculo especial entre os indivíduos. Sendo assim, pelos olhos dos pequenos, não apenas repartir alimentos, mas também beijos ou limpar a saliva, indicam afeto e proximidade entre os humanos.

As crianças pequenas naturalmente captam dicas sociais daqueles ao seu redor. Por isso, elas sempre observam às pessoas, com objetivo de buscar explicações para as ações humanas. Segundo especialistas, é essa observação do mundo que garante o desenvolvimento infantil pleno.

Uma das responsáveis pelo artigo, Ashley Thomas, disse: “Sabemos de muitas pesquisas que os bebês estão super sintonizados com esse aspecto social [partilha de saliva] de seu mundo”.

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Imagem por smpratt90/Pixabay.

Como os autores avaliaram o compartilhamento de saliva?

Uma vez que é impossível saber exatamente o que bebês pensam, os pesquisadores precisaram acompanhar as ações desses pequenos indivíduos de forma diferente. Portanto, durante os testes, as crianças tinham seus olhares rastreados e acompanhados durante a apresentação de uma sequência de vídeos.

Primeiramente, um grande grupo de pequenos assistiu a um desenho animado mostrando várias interações entre os personagens. Na sequência, eles apresentaram alguns vídeos com boneco e avaliaram o olhar das crianças.

O estudo teve como base alguns experimentos clássicos realizados em macacos. Durante os mesmos, os animais sempre olhavam para a mãe quando um filhote estava em perigo. Porém, não era isso que acontecia com os nossos bebês.

O primeiro vídeo era de uma mulher mordendo um pedaço de laranja e depois entregando-a para um boneco. Já o segundo, consistia numa mulher brincando de bola com o fantoche. Após os dois vídeos, eles apresentavam outro material do boneco, agora chorando, e mediam para quem os bebês olhavam primeiro e por quanto tempo.

Além disso, os estudiosos realizaram outro tipo de procedimento para garantir segurança na análise. Isto é, eles passavam todos os filmes normalmente, mas no final o boneco choroso era outro.

Para fim de garantir uma boa análise, os autores também produziram vídeos com outra forma de compartilhamento de saliva. Ao invés de entregar o pedaço de laranja, as mulheres faziam um carinho na testa do boneco, uma com e outra sem saliva.

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Imagem por Tuan Tran/Getty Images Plus.

Quais os resultados das análises?

Segundo Thomas, todas as interações apresentadas eram amigáveis, porém apenas algumas estavam mais associadas com vínculo ou afeto. Por exemplo, no primeiro vídeo da partilha da laranja, quando o boneco chorava, os bebês olhavam mais para a mulher que entregou a fruta para o fantoche.

No caso do boneco diferente no final, as crianças não olhavam por tempo suficiente para a mulher compartilhando a laranja. Inclusive, não havia distinção significativa na observação das figuras femininas.

Por fim, no vídeo das mulheres fazendo carinho, os bebês esperavam que a mulher que usou saliva acolhesse o triste boneco. Por isso, os autores concluíram que os pequenos não apenas prestam atenção nas conexões entre as pessoas, mas também em com esses relacionamentos aconteciam.

Infelizmente, a pesquisa analisou apenas crianças dos Estados Unidos e não comparou diferentes culturas. No entanto, mesmo assim, a maior compreensão das relações humanas poderá ajudar indivíduos com dificuldades para criar laços no futuro.

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