Epidemias de fungos mortais estão acontecendo ao redor do mundo

Mateus Marchetto
Entenda porque epidemias de fungos estão ficando mais comuns durante a pandemia do coronavírus. Imagem: Janice Carr, Betsy Crane, USCDC/Pixnio

Fungos são conhecidos em geral, por doenças superficiais, como o pé-de-atleta. No entanto, diversos fungos microscópicos podem causar doenças graves, tão sérias quanto aquelas que vírus ou bactérias causam. Em vista disso, diversas epidemias causadas por fungos microscópicos estão pipocando ao redor do mundo. Os motivos, ademais, ainda não são completamente claros.

Nos últimos dias, por conseguinte, diversos hospitais indianos vêm relatando casos crescentes de mucormicose. Essa doença acontece pela infecção por certas espécies de bolores – tipos de fungos que formam filamentos – principalmente do gênero Mucor. Autoridades do Ministério da Saúde em Delhi, aliás, entraram com um pedido de declaração de epidemia na última quinta-feira (20).

Outro exemplo de ameaça fúngica começou nos Estados Unidos, ainda no começo da pandemia do Sars-CoV-2. Autoridades relataram infecções alarmantes por uma cepa resistente do fungo Candida auris. No fim de 2020. por conseguinte, o CDC contabilizou um total de mais de 1500 casos em 23 estados americanos.

Além do mais, o C. auris causou a morte de aproximadamente dois terços dos pacientes internados em UTI’s nos quais houve a infecção. Vale ressaltar que quase a totalidade destes pacientes fora internada por Covid-19.

Como acontecem infecções por fungos – e o corona com isso

Os fungos infecciosos podem ter duas formas: leveduras, que são organismos unicelulares, ou bolores, que são pluricelulares e formam filamentos (como os bolores que aparecem em um pão velho). Além do mais, esses organismos são eucariotos, ou seja, possuem o material genético dentro de um núcleo, assim como os animais. Essa e outras características fazem as células dos fungos muito parecidas com as nossas próprias.

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Hifas (filamentos) de um bolor vistas ao microscópio. Imagem: Mateus Marchetto

Por esse motivo geralmente os tratamentos contra fungos podem levar meses ou anos. Ademais, doenças fúngicas são ainda muito mais recentemente descobertas do que aquelas causadas por vírus e bactérias. Isso faz com que o mercado de medicamentos ainda seja bem escasso quanto a essas infecções.

Nesse ponto, soma-se o fator coronavírus. Acontece que a maioria dos fungos causam infecções oportunistas, após alguma doença primária. Como a pandemia causou uma internação massiva de pacientes ao redor do mundo, diversos fungos puderam se aproveitar de hospitais lotados e pacientes imunodeprimidos.

Vale ressaltar que muitos dos medicamentos e técnicas para o tratamento da Covid-19 (e outras doenças virais) causam uma diminuição na resposta imune do paciente. Isso evita inflamações excessivas que poderiam causar danos aos tecidos. Todavia, essa baixa na imunidade forma um ambiente perfeito para a infecção por fungos como o C. auris.

O papel da mudança climática em novas infecções fúngicas

Fungos geralmente preferem ambientes úmidos e frios. Por esse motivo infecções em humanos são, em geral, superficiais, já que o interior do nosso corpo mantém os 37°C. Contudo, o aquecimento do planeta pode ter dado início a uma seleção de fungos mais resistentes ao calor.

Assim como as bactérias, por conseguinte, fungos podem passar por seleção artificial pelo uso de medicamentos, acabando por se tornarem resistentes. Esse problema fica mais grave quando adicionado à falta de medicamentos no mercado, citada acima.

Dadas essas epidemias, empresas e autoridades de saúde buscam agora acelerar a descoberta de tratamentos e possivelmente vacinas para doenças fúngicas. O processo, contudo, é lento, uma vez que a prioridade seja o Sars-Cov-2.

Com informações de Scientific American.

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