Superfungo é mais mortal do que Covid e resistente a medicamentos

Erik Behenck
Foto: Science Photo Library/via BBC

Um homem hospitalizado na Bahia é suspeito de ter sido o primeiro brasileiro contaminado com um novo superfungo, conhecido cientificamente por Candida auris. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que se trata de um “fungo emergente que representa uma série ameaça à saúde pública”.

O superfungo foi descoberto em 2009 e já chegou em mais de 30 países, sendo “multirresistente” aos medicamentos e fatal em 39% dos casos. Além disso, o paciente baiano apresenta quadro de Covid-19, sendo um claro exemplo do que podemos esperar do futuro, onde estaremos mais vulneráveis a infecções globais.

Superfungo e os seus perigos

O superfungo apresenta algumas semelhanças com a Covid-19 e conforme o médico infectologista e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Alessandro Comarú Pasqualotto, ainda existem muitas dúvidas quanto a Candida auris.

“Embora ela seja muito resistente e preocupante, não sei se a Candida auris vai chegar ao ponto de infectar muita gente”, explicou. “Em termos globais, ainda são poucos os casos. Não é porque temos a suspeita de um caso no Brasil que temos que fechar as fronteiras”, comentou.

Contudo, ele informa que devido à forte resistência do fungo, é preciso ligar o sinal de alerta. De acordo com estimativas feitas por pesquisadores chineses, existem pelo menos 4,7 mil casos de infecções, em 33 países onde o fungo foi encontrado.

É algo que consegue facilmente driblar os medicamentos que são aplicados, se espalha rapidamente e ainda possui uma alta taxa de mortalidade. “A grande preocupação, especialmente em ambiente hospitalar, é com o fato de ser multirresistente, porque as opções de tratamento ficam muito estreitas”, diz o médico.

A resistência é o grande perigo deste fungo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que a resistência microbiana seja uma das maiores ameaças à saúde global. Ela acontece já que os microrganismos evoluem e se tornam mais fortes. Então, muitas doenças não possuem nenhuma forma de tratamento, o que complica e muito a situação.

“Casos como o da Candida auris são como um evento adverso do progresso da humanidade: à medida que a gente progride, produz mais antibióticos, que as pessoas são mais invadidas por procedimentos médicos e sobrevivem mais, passam a surgir novos patógenos que antes não causavam doenças”, explica o médico.

Para ele, a Candida auris é apenas a bola da vez, assim como outras doenças que já apareceram e foram combatidas. Ainda conforme Pasqualotto, existem entre 20 e 30 espécies desse gênero, que geralmente são transmitidas em ambientes hospitalares. Os fungos são oportunistas e aproveitam procedimentos invasivos para proliferar.

Quando o superfungo consegue chegar ao sangue, torna o risco de óbito ainda maior, elevando a taxa de mortalidade para 45%. Segundo a Anvisa, ele é mais perigoso para as pessoas que possuem comorbidades. Além disso, é complicado de identificá-lo, necessitando de métodos não disponíveis nos hospitais.

Por fim, o paciente internado na Bahia passará por novos exames, para identificar o sequenciamento genético do microrganismo. Essa doença pode ser confundida com outras e por isso exige uma técnica específica para sua identificação, que é cara, conhecida por Maldi-Tof.

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