Sapos estão evoluindo aceleradamente para evitar girinos canibais

Mateus Marchetto
Imagem: picman2 / Pixabay

O sapo-cururu (Rhinella marina) é uma espécie nativa da América do Sul, especialmente do Brasil, que acabou introduzida na Austrália. Todavia, um novo estudo mostra que os sapos australianos estão bastante diferentes e acabaram desenvolvendo girinos canibais.

Ainda em 1935, algumas dezenas de sapos-cururus chegaram à Austrália, levados por fazendeiros, para conter besouros em plantações. Contudo, sem predadores naturais, o sapo-cururu dominou o novo ambiente, se tornando uma espécie invasora com mais de 200 milhões de integrantes no país.

Como mostra a pesquisa publicada no periódico PNAS, por conseguinte, uma vez sem predadores e com uma população tão grande, os sapos-cururus se voltaram contra si mesmos. Acontece que cientistas observaram a presença de girinos canibais na espécie. Estes últimos caçam e comem centenas de outros filhotes recém-saídos dos ovos, que ainda não atingiram a fase de girino.

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Imagem: sandid / Pixabay 

Para além disso, os pesquisadores compararam sapos-cururus da América do Sul e da Austrália para comparar o desenvolvimento de girinos canibais. Impressionantemente, os girinos australianos são quase três vezes mais propensos a atacar seus parentes mais jovens.

Além do mais, os girinos australianos foram 30 vezes mais propensos a entrarem em um recipiente com filhotes-recém nascidos, quando apresentados a este e um recipiente vazio. Nesse sentido os pesquisadores acreditam que um composto químico liberado pela mãe nos ovos pode dirigir a atração.

Vale ressaltar também que quando os filhotes atingem a fase de girino, os outros girinos canibais perdem o interesse pelo canibalismo

Evolução dos filhotes para combater os girinos canibais

Além do comportamento de canibalismo nos girinos, os pesquisadores observaram também uma característica diferente nos recém-nascidos australianos. Acontece que o tempo de desenvolvimento antes de atingirem a fase de girino está consideravelmente menor.

Em média, os filhotes australianos levaram de 3 a 4 dias para atingir a fase de girino, enquanto seus parentes sul americanos demoram, em geral, 5. Isso indica, de acordo com os pesquisadores, que os filhotes podem estar evoluindo rapidamente para terem um desenvolvimento mais rápido.

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Imagem: Kathy Detweiler / Pixabay 

Ou seja, atingindo a fase de girino mais rapidamente, eles têm mais chances de escaparem de seus parentes mais velhos e canibais.

No entanto, a pesquisa mostra que essa evolução também tem consequências ao longo da vida do animal. Os sapos-cururus australianos que se desenvolvem mais rápido para a fase de girino acabam tendo um crescimento mais lento e não tão eficiente mais tarde, antes de atingirem o estágio adulto.

Vale ressaltar que os girinos canibais se beneficiam duplamente desse comportamento bizarro. Primeiro eles ganham nutrientes importantes na natureza. Segundo, eles eliminam uma competição acirrada em estágios posteriores da vida.

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