Novas evidências contradizem teoria de que povos americanos migraram do Japão

Mateus Marchetto
Imagem: Tereza Flachová / Pixabay

Nas últimas décadas, pesquisadores e especialistas estabeleceram uma teoria de que os primeiros colonizadores da América vieram de uma população do Japão. No entanto, uma sequência de evidências vêm enfraquecendo esta teoria. Dentre elas, pesquisadores agora analisaram a genética de povos americanos, mostrando que eles provavelmente não migraram do Japão.

O povo Jomon foi um dos primeiros a habitar o arquipélago do Japão. Já há 14 mil anos, este grupo tinha uma cultura bem estabelecida no continente asiático e pesquisadores por muito suspeitaram que parte deste povo migrou em direção à América do Norte, colonizando o continente pela primeira vez.

Isso porque diversos equipamentos de caça, principalmente pontas de lanças e flechas, tinham tecnologias altamente semelhantes em fósseis do Japão e das Américas.

Todavia, uma pesquisa publicada no periódico PaleoAmerica contou com a análise genética e morfológica de mais de 1500 arcadas dentárias de povos Jomon e americanos, contradizendo estas evidências.

Após comparar o genoma de ambos os grupos, além de mais de 25 tratos morfológicos, os pesquisadores se depararam com uma inconsistência. Acontece que estas análises mostraram que os povos Jomon eram geneticamente muito diferentes dos primeiros colonizadores da América.

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Imagem: Richard Scott via LiveScience

Na verdade, segundo a pesquisa, eles estariam entre os ancestrais menos prováveis para tal feito.

A pesquisa é ainda mais forte devido a outras evidências marcantes sobre a colonização das Américas. No Novo México, por exemplo, pesquisadores descobriram pegadas humanas de mais de 23.000 anos – muito antes do que se acreditava que humanos estivessem no continente.

Se os americanos não migraram do Japão, de onde então?

As eras do gelo, de forma geral, variavam em intensidade conforme a dinâmica climática do planeta. A última Era Glacial teve máximos (períodos mais frios) e mínimos (períodos mais quentes), durante os quais a cobertura de gelo variava bastante.

Acontece que no final da última máxima glacial – há mais ou menos 16 mil anos – parte do Estreito de Bering pode ter ficado emerso das águas do Pacífico, criando uma ponte entre a Rússia e o Canadá. Nesse período os primeiros humanos migraram da Ásia para cá. Ou pelo menos era isso que se acreditava até agora.

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Estreito de Bering atualmente. Imagem: Google Maps 2021.

Assim, a pesquisa sugere que o povo Jomon e os colonizadores americanos tinham um ancestral comum muito antigo. Ou seja, essas duas populações se separaram geneticamente há possivelmente 30.000 anos.

Assim, a pesquisa sugere que a população que deu origem de fato à migração para as Américas na verdade viveu em uma ampla região da Sibéria próxima ao Estreito de Bering. O problema é que boa parte dessa área ou está debaixo d’água devido ao aquecimento do planeta, ou ainda está coberta de gelo atualmente.

Portanto, os dados fósseis de outros candidatos para a colonização da América são muito escassos. Ainda assim, a pesquisa coloca a tradicional teoria de que os americanos migraram do Japão há 16 mil anos, novamente, em xeque. Talvez o xeque-mate só dependa de mais alguns registros fósseis.

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