Pela primeira vez, vemos o núcleo de um planeta exposto

Felipe Miranda
(Créditos da imagem: University of Warwick/Mark Garlick)

Nunca antes havíamos avistado algo semelhante. Um núcleo de um planeta exposto pairando próximo à sua estrela. O TOI-849b, como foi chamado, é o núcleo do que um dia virá a ser ou foi um planeta gasoso.

A descoberta pode lançar luz sobre o que sabemos do  processo de surgimento, desenvolvimento e evolução de um planeta, e do próprio sistema solar. É um momento único para os cientistas colherem mais informações.

“A descoberta deste planeta mostra que a formação e evolução do planeta ocorrem de maneiras incomuns, não previstas pelo estudo do sistema solar”, disse ao Space.com David Armstrong, autor principal do estudo.

A descoberta foi feita pela TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), um telescópio espacial liderado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). A TESS também conta com apoio da NASA.

Eles também utilizaram alguns dados do HARPS (High Precision Speed ​​Radial Planet Searcher). O equipamento pertence ao ESO (Observatório Europeu do Sul), localizado no deserto do Atacama, Chile.

O planeta  fica extremamente próximo da estrela – tão próximo, que completa uma órbita a cada 18 horas. Para efeitos de comparação, o período orbital de Mercúrio, o planeta mais próximo do sol, é de 88 dias.

Ademais, sua temperatura é extremamente alta – de cerca de 1527 graus Celsius na superfície. Vênus, o planeta mais quente do sistema solar possui uma temperatura média de cerca de 460 graus na superfície.

O protótipo de planeta

Um núcleo desse tamanho deveria ter adquirido uma grande camada de hidrogênio e hélio após sua formação, adquirindo uma tamanho semelhante ao de Júpiter, segundo nossos modelos.

Entretanto, ele possui aproximadamente o tamanho de Netuno, com uma massa de 2 a 3 vezes maior que o planeta. Ademais, não possui todo esse hidrogênio, adquirindo o tamanho que deveria.

Não se sabe, no entanto, se ele foi um planeta totalmente formado que sofreu um acidente e teve o infortúnio de ficar assim ou se ele nunca conseguiu material o suficiente para se formar por completo.

Esse é o padrão para os planetas gasosos: um núcleo formado por gases, mas muito sólido, pela pressão, que, por sua vez, é envolto por uma espessa camada de hidrogênio e hélio.

O núcleo de Júpiter, por exemplo, é formado por um tipo de estado do hidrogênio chamado de hidrogênio metálico, que ocorre quando o gás está sob uma pressão imensa – superior a 4 atmosferas terrestres.

Ele recebe o nome de metálico pois ganha algumas características semelhantes às dos metais, como ótima condução de energia. Em Júpiter, o hidrogênio metálico que é responsável pelo campo magnético.

Oportunidade de estudo

O motivo do núcleo de um planeta exposto é um verdadeiro e bizarro mistério que intriga os cientistas, uma incógnita. A resposta deverá vir futuramente com mais observações e mais estudos sobre o objeto.

À BBC News, Armstrong, o autor, disse: 

“É a primeira vez, nos dizendo que planetas como esse existem e podem ser encontrados. Temos a oportunidade de olhar o núcleo de um planeta de uma maneira que não podemos fazer em nosso próprio sistema solar.”

Ele completa:

“Ainda existem grandes questões em aberto sobre a natureza do núcleo de Júpiter, por exemplo, exoplanetas tão estranhos e incomuns como esse nos dão uma janela para a formação do planeta que não temos outra maneira de explorar.”

O estudo foi publicado na revista Nature. Com informações de BBC News e Space.com.

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