O que aconteceria com o corpo humano no vácuo do espaço?

Jônatas Ribeiro
Imagem: US Embassy

É comum imaginarmos para o futuro cenários dignos de ficção científica. Seja com alterações mecânicas no corpo humano, colonização de planetas, viagens espaciais para locais cada vez mais distantes… A verdade é que há uma gama enorme de possibilidades. Contudo, o mais interessante é que, por mais que possamos ter tido contato com essas ideias primeiro em obras como livros ou filmes, há muito de verdade nelas. Já estamos fazendo pesquisa de ponta em próteses mecânicas controladas por nosso sistema nervoso. Além disso, já foram anunciados planos de viagem para Marte e um retorno à Lua deve ocorrer em breve.

Frente a isso, imaginemos um possível problema nesses cenários. Um astronauta parte da Terra em mais uma de suas missões espaciais. Ele está em uma nave, ou talvez em uma estação espacial, como a Estação Espacial Internacional. Uma falha técnica, então, subitamente acontece. O astronauta é ejetado para fora de sua segurança. Contudo, como dentro da nave havia pressurização e oxigênio apropriados, ele não estava utilizando um traje. É, portanto, atirado para fora sem proteção. Há, então, uma pergunta a se fazer em uma situação dessas. O que aconteceria com o corpo humano se lançado no vácuo do espaço?

Poderíamos buscar a resposta para essa pergunta na ficção. Afinal, o assunto já foi tratado muitas vezes em filmes e até mesmo desenhos animados. As coisas, porém, não são como parecem. Sem uniformes e capacetes, os personagens astronautas podem ter mortes bem caricatas, como ter suas cabeças explodindo. Ou então, ter seus corpos instantaneamente congelados em morte súbita. A realidade é um pouco menos grotesca. Porém, também pode ser bem feia. E rápida, aliás. Com a diferença de que o processo de falecimento não duraria segundos, mas sim, minutos.

O corpo humano no vácuo

Vitruvian
Imagem: Wikimedia Commons

No espaço, as coisas são bem diferentes da Terra. Aqui, temos uma atmosfera permeada por gases, alguns fundamentais para a respiração dos organismos. Além disso, em função dessas moléculas de ar, temos pressão atmosférica. E graças a ela, determinam-se algumas propriedades químicas importantes como os pontos de fusão e ebulição de substâncias. No litoral, por exemplo, por estarmos ao nível do mar, a pressão atmosférica é maior do que em altitudes maiores. O ponto de ebulição, assim, também é maior. Por isso, é mais difícil ferver água em altitudes baixas. Já no espaço, praticamente não há pressão. Os líquidos, portanto, evaporam muito mais facilmente. Para um organismo composto em sua maior parte por água, como corpo humano, é fácil entender como isso pode ser um problema.

Na ausência de pressão, o conteúdo líquido de nossos corpos evaporaria. E os tecidos que contém o líquido se expandiriam. Além disso, como o sistema circulatório do corpo humano tem sua própria pressão, a evaporação se daria em um ritmo diferente no sangue. Contudo, nos tecidos, ocorreria rápida formação de bolhas. Um estudo de 2013 com humanos e animais, por exemplo, relata que na presença de vácuo, pode haver perda de consciência em 10 segundos. E até mesmo perda de controle da bexiga e sistema intestinal.

Ainda mais perigo pela frente

Vacuum chamber being opened by engineer
Imagem: NASA JPL-Caltech

Para piorar a situação, o vácuo do espaço também puxaria o ar dos pulmões em função da diferença de pressão entre o ambiente e o corpo humano. O sufocamento viria em poucos minutos. E ainda, gás e vapor de água também seriam retirados do corpo no processo, além da retirada de calor graças à evaporação dos líquidos.

Para não dizer que é impossível sobreviver em um ambiente assim, porém, existem casos no passado. Jim LeBlanc, um engenheiro da NASA, estava realizando nos anos 60 testes com protótipos de trajes espaciais em um câmara de vácuo. A fonte do ar pressurizado em sua própria roupa, porém, foi desconectada de alguma forma. LeBlanc conseguiu escapar do risco de morte, mas afirma que conseguiu sentir sua saliva formar bolhas antes de desmaiar. Enfim, a lição que fica é: se for ao espaço, não se esqueça de um traje apropriado.

Compartilhar