Empresa cavará o maior buraco da Terra para fornecer energia ilimitada à humanidade

Dominic Albuquerque
A profundidade que poderia ser alcançada. Imagem: Quaise

Desde o seu lançamento em 2020, uma empresa pioneira chamada Quaise tem atraído atenção por seu plano ultra ousado: a companhia quer cavar o maior buraco da Terra.

Após o fim da primeira rodada de financiamento de capital, a empresa levantou um total de US$ 63 milhões. Com esse valor, é possível dar o primeiro passo no plano que pode tornar energia geotérmica mais acessível para mais pessoas ao redor do mundo.

Diferentemente da energia solar e eólica, que crescem cada vez mais e dominam o mercado de energia verde, a geotérmica tem ainda uma presença tímida.

Isso porque, apesar de ser uma excelente escolha de fonte de energia limpa, ininterrupta e sem limites, há pouquíssimos locais onde rochas quentes adequadas para extração de energia geotérmica encontram-se próximas à superfície.

A Quaise busca desenvolver uma tecnologia que vai nos permitir cavar buracos na crosta a profundezas recorde.

Como cavar o maior buraco da Terra

A visão da empresa para cavar o maior buraco da Terra é combinar métodos tradicionais de escavação com uma tecnologia usando tubos de vácuo conhecidos como girotrons.

Os girotrons disparam feixes de luz de ondas milimétricas, alimentados por elétrons em um forte campo magnético. Usando esses dispositivos, a Quaise planeja queimar quase duas vezes mais longe que os buracos já feitos até então, que se estendem a cerca de 12.3km.

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Girotron de 140 Ghz de alta potência para aquecimento de plasma no experimento de fusão Wendeistein 7-X, Alemanha. Imagem: Wikipedia Commons

Girotrons são fortes o suficiente para aquecer plasma em experimentos de fusão nuclear, tornando-os ideais para sondar uma profundidade de 19km, onde rochas subterrâneas encontram-se a cerca de 500°C.

A água bombeada nesse ambiente se vaporizaria instantaneamente como vapor, o que poderia ser convertido em eletricidade.

Usando o financiamento e fundo de investimento, a Quaise espera ter dois dispositivos que possam ser usados em campo para operações com prova de conceito nos próximos dois anos. Se tudo der certo, ela poderá ter um sistema funcional produzindo energia em 2026.

Em 2028, a ambiciosa empresa espera transformar velhas estações movidas a carvão em instalações movidas a vapor.

O processo de cavar esses buracos gigantes pode levar alguns meses, mas quando for alcançado, seria possível obter energia ilimitada para uma região por até um século, segundo Carlos Araque, CEO e co-fundador da Quaise Energy.

O potencial da energia geotérmica

Atualmente, mesmo sem essa tecnologia, cerca de 8.3% da energia global poderia vir de fontes geotérmicas, fornecendo 17% da população mundial. Em torno de 40 nações poderiam se sustentar somente nesse tipo de energia.

Contudo, menos da metade dessa porcentagem é alcançada.

Essa tentativa de encontrar energia nas profundezas da Terra pode complementar o nosso objetivo tão almejado de acabar com a dependência da humanidade em combustíveis fósseis, que são a principal causa das mudanças climáticas originadas pelo homem.

A energia geotérmica pode emergir como uma fonte limpa ao lado da eólica, solar, hidro e, se tudo funcionar, fusão nuclear, ainda que essa última provavelmente esteja a algumas décadas de distância, isso se algum dia for atingida.

A iniciativa da empresa é impressionante, e espera-se que atinja bons resultados.

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