O linguista e professor norte-americano de 93 anos Noam Chomsky discorreu em uma entrevista concedida ao News Stateman sobre a catástrofe climática e a grande ameaça de uma guerra nuclear iminente que representa o ponto mais perigoso da humanidade.
“Estamos agora enfrentando a perspectiva de destruição da vida humana organizada na Terra”, relata o professor. Noam é conhecido como o estudioso vivo mais citado do mundo, que apesar da idade, ainda está ativo e com o fervor moral de um jovem radical que está mais preocupado com a mortalidade do mundo do que com a própria.
Guerra na Ucrânia e a democracia liberal
Chomsky possui uma ligação familiar com a Ucrânia. Seu pai nasceu no país, mas emigrou para os Estados Unidos em 1913 a fim de evitar o serviço militar no exército czarista. Vendo a guerra acontecendo no país, Noam não tem hesitação em denunciar a agressão criminosa de Vladimir Putin contra uma população inteira de civis.
Segundo ele, há duas maneiras de olhar para essa questão. A primeira é realizar a sondagem dos recessos da mente distorcida de Putin para determinar o que está acontecendo na sua psique profunda.
A segunda, é olhar para os fatos. “Em setembro de 2021, os Estados Unidos saíram com uma forte declaração política, pedindo uma cooperação militar maior com a Ucrânia, promovendo o envio adicional de armas militares avançadas, tudo parte do aprimoramento do programa de adesão da Ucrânia à OTAN. […] O que sabemos é que a Ucrânia será ainda mais devastada. E podemos passar para uma guerra nuclear terminal se não buscarmos oportunidades que existem para um acordo negociado.”
Noam ainda disse que o maior medo do líder russo não é o cerco da Otan, mas sim a possibilidade de disseminação da democracia liberal na Ucrânia e em outras regiões próximas à Rússia. “Putin está tão preocupado com a democracia quanto nós.”
Noam Chomsky fala sobre a liderança americana
Quem já leu o livro de Noam intitulado como American Powers and the News Mandarins que foi publicado em 1969, sabe do seu desprezo pelas hipocrisias e contradições da política americana.
“Certamente é certo ter indignação moral com as ações de Putin na Ucrânia. Mas seria um progresso ainda maior ter indignação moral sobre outras atrocidades horríveis.” Na sua fala, Noam Chomsky relata sobre o fato de ter milhões de pessoas no Afeganistão passando fome, mesmo com comida nos mercados.
”Quem tem pouco dinheiro tem que ver seus filhos passar fome porque não pode ir ao mercado comprar comida. Por quê? Porque os Estados Unidos, com o apoio da Grã-Bretanha, mantiveram os fundos do Afeganistão em bancos de Nova York e não os liberarão.”
Possível retorno de Trump e crise climática
Ao falar sobre Donald Trump e seu possível retorno, Noam Chomsky se recorda dos anos 1930, onde o que lhe vem à mente são as memórias dos discursos de Hitler no rádio. “Eu não entendia as palavras, eu tinha seis anos. Mas eu entendi o clima. E foi assustador e aterrorizante. E quando você assiste a um dos comícios de Trump, isso não pode deixar de vir à mente. É isso que estamos enfrentando.”
Noam disse que o fanatismo de Trump fez com que a base culta do Partido Republicano mal considerasse a mudança do clima como um problema sério. “Isso é uma sentença de morte para a espécie”.
Agora, Noam Chomsky acredita que os jovens são a esperança para um futuro melhor. Ele relata que os mais novos estão horrorizados com o comportamento da geração mais velha, e que eles estão mais dedicados a mudar os rumos da história antes que ela consuma todos nós.