Cientistas descobrem primeiro caso de morcegos que imitam insetos para afastar predadores

Letícia Silva Jordão
Imagem: MARCO SCALISI

Existem muitos casos na natureza onde os animais imitam características de seres mais perigosos para afastar potenciais predadores. Mas recentemente, os cientistas descobriram o primeiro caso de morcegos que imitam insetos para banir predadores.

Os pesquisadores observaram que alguns morcegos zumbem como vespas e abelhas quando estão em perigo, porque o som parece deter as corujas predadoras. A descoberta foi relatada na revista Current Biology e surpreendeu a comunidade por ser o primeiro caso em que um mamífero utilizava o som para evitar predadores.

Os morcegos já são animais conhecidos por usar a ecolocalização para se manobrar pelo ar, localizar suas presas e se comunicar. Essa nova descoberta vem para mostrar a importância do som para esses mamíferos.

Caso de morcegos que imitam insetos levou duas décadas para ser estudada

Entre 1998 a 2001, o ecologista animal Danilo Russo, co-autor do estudo, estava trabalhando na criação de um banco de dados para todas as chamadas de ecolocalização de todas as espécies de morcegos italianos.

Seus estudos envolviam a captura de morcegos com orelhas de ratos (Myotis myotis) enquanto estavam vivos a partir de redes. Enquanto ele e seus colegas realizavam essa tarefa, os morcegos faziam zumbidos que lembravam vespas e abelhas.

Anos mais tarde, agora, ao lado do Dr. Leonardo Ancillotto, eles conseguiram iniciar essa pesquisa. Para testar essa hipótese, os cientistas tiveram que se concentrar em vespas, abelhas e duas espécies de corujas comuns a área geográfica dos morcegos que imitam insetos. Algumas corujas selvagens também foram adicionadas no estudo.

Dessa forma, os cientistas puderam coletar dados sobre o comportamento das corujas quando elas eram expostas ao zumbido das abelhas e vespas, que estava sendo reproduzido por um alto-falante.

Segundo a pesquisa, ao ouvir o zumbido de vespas ou abelhas, as corujas geralmente se afastam do alto-falante. Mas quando elas ouviam o som que os morcegos emitem para se comunicar, elas voltavam a se aproximar. No teste, a resposta das corujas selvagens foi mais pronunciada do que aquelas criadas em cativeiro, apoiando a hipótese da pesquisa.

Além disso, os pesquisadores também descobriram que, por conta do seu alcance auditivo, as corujas achariam os morcegos semelhantes às vespas.

Esse comportamento é um caso de mimetismo Batesiano

O mimetismo Batesiano é o nome dado ao comportamento dos animais que imitam outros para se afastar de predadores. Ele foi nomeado assim em homenagem ao naturalista britânico do século XIX, Henry Walter Bates.

Até agora, a maioria dos casos de mimetismo batesiano encontrados eram visuais. Em comparação a ele, existem poucos casos de mimetismo com som. “O mimetismo acústico é muito raramente documentado na natureza”, disse Ancillotto.

Além do caso dos morcegos que imitam insetos, o mimetismo acústico já foi visto em outros animais, como sapos gigantes congoleses sibilando como víboras do Gabão e corujas-buraqueiras que imitavam o chocalho de uma cascavel.

Esses casos mostram como os animais estão se adaptando de formas diferentes do seu último ancestral comum para sobreviver nos dias de hoje. 
“O mimetismo é uma ideia tão poderosa na ciência e na biologia evolutiva em particular. Isso mostra como você pode obter adaptações notáveis, mesmo entre grupos muito distantes”, relatou o biólogo evolucionário David Pfennig sobre o estudo dos morcegos que imitam insetos.

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