Minicérebros podem ser usados na criação de novos biocomputadores

Letícia Silva Jordão
Imagem: Elke Gabriel

Cientistas sugerem que minicérebros criados em laboratório possam um dia ser ligados para trabalhar como biocomputadores mais eficientes e poderosos.

O estudo publicado em fevereiro foi desenvolvido por pesquisadores de diversas áreas onde eles projetaram um plano para transformar células cerebrais humanas, conhecidas como organoides cerebrais, em um poderoso hardware biológico.

Este hardware seria capaz de fazer tarefas avançadas no campo computacional e aprender mais rapidamente do que os computadores baseados em silício.

O que são os minicérebros?

Os organoides cerebrais ou minicérebros, como ficaram conhecidos após o estudo, são um pequeno amontoado de células-tronco que ficam em laboratórios. 

Para transformá-las no organóide celular, os cientistas usaram as células para criar estruturas 3D que reproduzem a estrutura e função de um cérebro humano de forma simplificada.

Os minicérebros foram criados em 2013 a fim de investigar a microcefalia, uma doença que deixa a cabeça das crianças de um tamanho muito menor que a média.

Além disso, os minicérebros também foram usados na investigação de outras doenças, como Zika, Alzheimer e Parkinson. Há pouco tempo, os organoides celulares também aprenderam a jogar o videogame Pong.

Tudo isso foi possível porque esses órgãos possuem muitas células que adquirem e acumulam informações. Devido a essa capacidade que os minicérebros são ideais para realizar atividades onde é preciso aprender algo rapidamente sem consumir muita energia.

Como os biocomputadores seriam construídos?

Para desenvolver os biocomputadores com minicérebros os pesquisadores disseram que vão ajustar equipamentos de bioengenharia e aprendizado de máquina a fim de incentivar e registrar a atividade neural desses organóides.

Assim eles poderão enviar e unir informações para criar redes complexas que sustentem cálculos mais pesados. Isso seria possível porque o cérebro possui uma alta capacidade de armazenar informações que supera a de computadores convencionais. 

Hoje os pesquisadores afirmam que estão atingindo os limites físicos da tecnologia atual, mas, devido ao tamanho do chip utilizado, ainda não é possível ultrapassá-las.

Os minicérebros podem ter consciência?

Apesar da construção dos biocomputadores com o uso de minicérebros ser um grande avanço na comunidade científica, ainda é preciso ver os limites éticos que este projeto estaria passando.

Até o momento, a principal complicação em construir uma cópia em miniatura do cérebro humano é o fato de que os minicérebros possuem poucas células e elas tem um poder computacional limitado.

Além disso, os cientistas supõem que se a capacidade computacional dos minicérebros aumentarem com o tempo, eles podem se aproximar de alguma forma de inteligência, o que levanta a hipótese de que esses organóides poderiam desenvolver algum tipo de consciência.

Sobre isso, o co-autor Alysson Muotri já afirmou que a equipe está tentando coletar essa informação. Ele diz que “para situar isso em um espectro de consciência, estamos fazendo alguns estímulos para coletar um PCI, um índice de complexidade usado por alguns para medir o eventual espectro de consciência nesses organoides”.

No entanto, mensurar esse tipo de inteligência pode ser complicado. Mas, a equipe de pesquisadores continuará seu estudo e fará consultas com especialistas em ética para avaliar essas e outras questões sobre os minicérebros.

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