Homem nepalês tem a perigosa missão de salvar cobras venenosas

Daniela Marinho
Rohit Giri. Imagem: Divulgação WorldAtlas

Ofidiofobia é o medo extremo de cobras e serpentes. Para esse pavor, alguns tratamentos aliados à psicoterapia apresentam resultados satisfatórios. Contudo, as crenças e informações má e frequentemente difundidas a respeito desses animais são mais difíceis de dissipar e têm levado à extinção de diversas espécies. Nesse contexto, um homem nepalês assumiu a perigosa missão de salvar cobras venenosas: ele tem o objetivo de conscientizar a população de que esses répteis devem ser protegidos e amados.

Altruísta, a atitude vai de encontro ao que é “ensinado” desde a infância, uma vez que as crianças crescem com a ideia de que as cobras são abomináveis e de que a melhor medida de proteção é matá-las. De fato, algumas espécies de cobras são perigosas devido ao veneno – embora 90% das espécies brasileiras não são venenosas. Porém, as cobras e serpentes desempenham um papel importante para a natureza, visto que são presas e também predadoras; ajudando a equilibrar a cadeia alimentar e até mesmo ajudando a monitorar a radiação.

Jovem assume a missão de salvar cobras venenosas no Nepal

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Rohit Giri manuseando uma cobra. Imagem: Divulgação WorldAtlas

As cobras são associadas ao perigo e mortas, na grande maioria das vezes, simplesmente por serem cobras. Entretanto, em Pokhara no Nepal, o jovem Rohit Giri assumiu a árdua missão de salvar cobras venenosas e conscientizar as pessoas a parar de matar esses animais, bem como evitar acidentes.

Giri, que resgatou a primeira cobra quando ainda tinha 12 anos de idade, contou ao portal WorldAtlas sobre sua simpatia por esses répteis: “As cobras me encantavam desde a minha infância, quando eu as observava por horas deslizando pelos campos e arbustos perto de minha casa.” Foi a partir do primeiro resgate que Giri foi atingido pelo encanto. A beleza e a graça daquela bela víbora verde venenosa haviam despertado o sentimento que construiu a missão do jovem: proteger as cobras da ação do homem.

Missão já faz mais de uma década

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Víbora verde nas florestas do Nepal. Imagem: Rohit Giri

Os relatos de Giri são mesmo impressionantes. Ele conta que: “Em 2017, salvei uma cobra-real pela primeira vez, e que experiência emocionante foi!”. Mais de uma década depois do primeiro resgate, Giri atende cerca de 50 chamadas por mês. Ele é responsável pelo salvamento de mais de 700 cobras, incluindo espécies não venenosas, como a cobra-rato e a espécie mais temida da região, a poderosa e altamente venenosa cobra-rei.

Na ocasião do salvamento da cobra-real tão temida, Giri não tinha as ferramentas adequadas para garantir sua segurança e a do animal em questão, visto que tratava-se da cobra mais longa do mundo cujo veneno pode matar cerca de 20 pessoas ou um elefante com uma única mordida. Mesmo sabendo das limitações, Giri foi até a aldeia e se deparou com a triste cena em que os aldeões estavam arremessando pedras na cobra que estava a apenas 10 metros de distância de uma casa.

Por sua admiração pelo animal, Giri não hesitou em socorrer a cobra que teria uma morte atroz. O jovem então usou uma vara e cinco sacos de juta empilhados uns sobre os outros para evitar que a cobra-rei mordesse. Infelizmente, mesmo com a ajuda de Giri, a cobra estava muito ferida e nãosobreviveu, mesmo sendo levada para um centro de tratamento.

Distância respeitosa

Giri diz ser essencial conscientizar as pessoas sobre as picadas de cobras para que sejam evitadas. Contudo, o ativista acredita que as cobras não desperdiçam seu veneno em humanos, a menos que esteja se sentindo ameaça e precise se defender. Por isso, é essencial manter uma distância respeitosa desses animais, o que inclui não tentar manusear o animal, muito menos matá-lo; o que deve ser feito é ligar para um órgão competente. No Brasil, deve-se ligar para o Corpo de Bombeiros.

Vale destacar que o trabalho que Giri vem fazendo é fundamental para promover um relacionamento harmonioso entre animal selvagem e homem, na medida em que dissemina informações corretas, preserva a vida – humana e animal – e levanta a discussão de que o habitat das cobras está ameaçado tanto quanto o habitat de animais “protagonistas”, como tigres, rinocerontes e elefantes.

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