Em março de 2011, um maremoto de magnitude 8,9 atingiu a costa do Japão, com ondas de 15 metros. A então Usina Nuclear de Fukushima foi o principal prejuízo causado pelas águas, criando o maior desastre nuclear desde Chernobyl. Contudo, cientistas acreditam que cobras podem ajudar a monitorar a radiação de Fukushima.
Como parte de um estudo mais amplo, realizado em 2020, pesquisadores analisaram 9 cobras-rato (ou rat snakes) pertencentes de uma região a 24km de distância dos restos da usina. Após levarem os animais para o laboratório, os pesquisadores acoplaram um dispositivo de monitoramento por GPS nas cobras e as liberaram novamente no ambiente.
Os pesquisadores monitoraram então as cobras ao longo de alguns meses, e puderam identificar mais de 1700 lugares que estes animais frequentavam. Ao fim do estudo anterior, de 2020, a equipe buscou quantificar rádioisotopos, principalmente de césio, também no mesmo grupo de cobras.
![snake 2444295 1920](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2021/08/snake-2444295_1920-933x700.jpg)
Agora, com os dados de movimentação destes animais, os pesquisadores acreditam que seja possível traçar um mapa da radiação de Fukushima dentro da Zona de Exclusão – a área isolada após o acidente.
Vale ressaltar que o espalhamento da radiação de Fukushima após o acidente não foi padrão em todas as regiões, como era de se esperar. Assim, as cobras podem ajudar a identificar regiões relativamente seguras em termos de radiação.
Radiação de Fukushima a partir de bioindicadores
De acordo com a pesquisa publicada em julho de 2021, no periódico Ichthyology & Herpetology, portanto, as cobras-rato podem funcionar como bioindicadores para a radiação de Fukushima. Um bioindicador, por conseguinte, é um organismo que pode servir para identificar variações no ambiente.
Os sapos, por exemplo, necessitam uma atmosfera e água de qualidade para conseguirem fazer suas trocas gasosas – e sobreviver. Assim, quando uma população de sapos começa a morrer, especialistas sabem que isso pode ter algo a ver com a poluição da água ou da atmosfera.
No caso das cobras de Fukushima, nesse sentido, quantificar a radiação em cada animal pode, como dito, permitir aos pesquisadores traçar um mapa mais preciso e seguro ao redor da usina.
Por que as cobras, afinal?
As rat snakes são uma família de serpentes distribuídas por todo o hemisfério norte. Estes animais, em geral, não são venenosos e, o mais importante, são bastante sedentários. Em seu paper, a equipe de pesquisadores identificou que estes animais se movem em média 65 metros por dia, dentro de um território limitado.
Isso é importante pois animais que viajam longas distâncias poderiam absorver contaminantes de outros lugares fora da usina e acabar prejudicando as estimativas. Além do mais, as cobras passam a maior parte do tempo em contato direto com o solo, esporadicamente subindo em árvores. Portanto, elas podem carregar mais facilmente a radiação de Fukushima.
A pesquisa mostrou, por exemplo, que as cobras evitam florestas de coníferas sempre-verdes, e preferem sempre ficar próximas a ruas e rios. Ademais, alguns animais preferiam visitar e se abrigar em velhos celeiros e construções (abandonados após a evacuação em 2011).