Fóssil de nova espécie de ave de rapina é um dos mais completos do mundo

Mateus Marchetto
Imagem: Jacob Blokland/ Flinders University

Pesquisadores acabam de descrever uma nova espécie de ave de rapina, após encontrarem um dos fósseis mais completos do gênero. A ave caçadora viveu na Austrália há 25 milhões de anos, provavelmente caçando coalas e flamingos indefesos.

Pesquisadores australianos descobriram o fóssil da nova espécie de ave de rapina nas planícies ao redor do Lago Pinpa, no sudeste da Austrália. De acordo com a pesquisa, disponível no periódico Historical Biology, o fóssil continha 63 ossos da ave, batizada de Archaehierax sylvestris.

“É raro de se encontrar mesmo um osso de uma águia fossilizada. Ter a maior parte do esqueleto é bastante animador, especialmente considerando-se o quão velho ele é.”, afirma o coautor Trevor Worthy ao Mail Online.

Além do mais, essa águia pré-histórica era bastante diferente do padrão de outras águias, sejam antigas ou contemporâneas. Isso porque a A. sylvestris tinha pernas muito mais longas em comparação a seu corpo do que outras aves de rapina.

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Águia-audaz, maior ave de rapina da Austrália. Imagem: daemonzzz / Pixabay 

As pernas da águia podiam atingir os 15cm de comprimento, mesmo que suas asas fossem muito mais curtas do que seria esperado para pernas deste tamanho. A águia-audaz, por exemplo, é a maior ave de rapina da Austrália atualmente, bem maior que a A. sylvestris, e ainda assim as pernas dos dois bichos têm praticamente o mesmo tamanho.

Assim, os pesquisadores sugerem que esta águia pré-histórica não dependia de voos rápidos para caçar. Ao invés disso, a A. sylvestris provavelmente voava mais lentamente e caçava suas presas por emboscadas. No menu estavam, por exemplo, coalas e flamingos.

Por que ossos de aves de rapina são, em geral, mais raros?

A região do Lago Pinpa atualmente é dominada por climas secos e quentes, bem como boa parte das planícies australianas. Contudo, a paisagem era bastante diferente há 25 milhões de anos. Ao invés de areia, o lago era cercado por planícies alagadas com grandes florestas ao seu redor.

Esse ambiente, portanto, era perfeito para garças, flamingos, os mais variados peixes, e os clássicos coalas. Com toda essa abundância de presas, a A. sylvestris provavelmente era o predador de topo de cadeia neste ecossistema. Por isso inclusive, a descoberta de fósseis completos é tão rara.

Acontece que, ao longo da cadeia alimentar, a energia da comida se perde. Ou seja, predadores de topo precisam consumir muitas presas para manter sua energia. Por esse motivo, quanto mais alto na cadeia alimentar, menor a abundância de um animal.

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Comparação entre ossos das pernas da A. sylvestris (esquerda) e água-audaz (direita). Imagem: Jacob Blokland/ Flinders University

Por esse motivo, inclusive, os autores ressaltam que a descoberta seja tão animadora.

Além do mais, a A. sylvestris não é uma ancestral direta de nenhuma ave de rapina vivente hoje. Ou seja, estes animais tinham sua própria ramificação evolutiva que acabou se extinguindo por processos naturais.

Ainda assim, os autores ressaltam que a nova descoberta adiciona ainda mais uma camada de complexidade nos ecossistemas australianos, mostrando um predador com adaptações e características únicas.

A pesquisa está disponível no periódico Historical Biology.

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