Experimento social mostra “mendigo” ganhando 2x mais dinheiro ao vestir terno

Dominic Albuquerque
Imagem: Depositphotos

A atitude altruísta de ajudar estranhos, como mendigos, sem alguma retribuição clara, é algo que pode ser intrigante numa perspectiva evolucionária – afinal, estamos compartilhando recursos de sobrevivência com alguém que não é do nosso grupo íntimo.

Todavia, o fazemos mesmo assim, e estudos mostram que a generosidade em geral torna as pessoas mais felizes e mais respeitadas. Compartilhar comida e dar dinheiro são alguns dos exemplos mais comuns.

Bennett Callaghan, estudante de pós-doutorado da Universidade da Cidade de Nova York, resolveu fazer um experimento social nas ruas de Nova York e Chicago, com o objetivo de estudar e compreender quais sinais interferem no comportamento alheio nesses momentos de generosidade.

Ele agiu como um pedinte, ou mendigo, pedindo dinheiro aos transeuntes. O teste foi feito de duas formas: numa, Callaghan vestia apenas uma calça jeans e uma camiseta; noutra, um terno elegante.

Seu comportamento não mudou, mesmo com a diferença de roubas. Enquanto ele ficava parado em várias áreas agitadas, com muito tráfego de pedestres, segurando um copo e um papelão com uma mensagem sobre pessoas sem teto, seus assistentes de pesquisa contaram o número de pessoas que passaram por Callaghan, interagiram com ele e, por fim, as que deram algum dinheiro.

O resultado do experimento como um “mendigo”

O experimento de campo, simples e efetivo, mostrou que as pessoas doaram mais que o dobro de dinheiro quando o cientista vestia o terno, vestes de alto status, comparado à quando vestia roupas simples, de baixo status. Ao longo de três horas e meia, Callaghan conseguiu US$ 54.11 vestindo o terno, comparado a US$ 21.15 nas mais de quatro horas vestindo camiseta e jeans.

Callaghan contou ao PsyPost que se surpreendeu com a diferença; ele esperava ganhar mais dinheiro com o terno, mas não tanto quanto recebeu. Citou que, enquanto vestia o terno, várias pessoas deram doações de 5 ou 10 dólares, e uma delas até deixou um cartão de visitas no copo ao invés de apenas uma doação.

Como a única coisa diferente no experimento eram suas vestes, os pesquisadores acreditam que o status desempenha um papel importante ao influenciar as interações das pessoas com o pedinte. Mas o que está por trás desse efeito?

mendigo
No cartaz do pesquisador: “Pelo menos 1700 habitantes de Chicago dormiram nas ruas em janeiro de 2011. Ainda não está frio, mas o inverno está chegando. Qualquer doação ajuda. Obrigado”.

A percepção do alto status sinaliza competência e confiança

Em busca de desvendar o mecanismo por trás das vestes e percepção do status impactarem o comportamento compassível e altruísta das pessoas, os pesquisadores recrutaram 492 participantes para uma pesquisa online.

Os participantes viram fotos de Callaghan na rua, segurando o copo e o cartaz, vestindo ou a camiseta e calça ou o terno, e foram pedidos para analisarem o “mendigo” em diversos atributos sociais.

Os resultados confirmam que as pessoas percebem o pesquisador de terno como tendo um maior status do que ao vestir roupas simples. Eles também atribuíram ao pesquisador de terno como tendo maior competência, cordialidade, semelhança consigo mesmo e humanidade.

Isso parece sugerir que as pessoas estavam mais dispostas a se aproximar e oferecer dinheiro a alguém de maior status porque provavelmente perceberam esse pedinte como mais merecedor do que alguém de baixo status.

Como vestir um terno aumentou a percepção de competência, os pedestres pareciam mais confiantes de que a pessoa pedindo dinheiro de fato o usaria para o propósito que apontava, ao invés de direcioná-lo para ganhos pessoais, como comprar drogas ou álcool.

Além disso, uma pessoa que parece bem-sucedida, mas que ainda assim está pedindo dinheiro na rua, pode passar a impressão de estar passando por uma situação desfavorável, mas temporária. Assim, com uma pequena ajuda, essa pessoa poderia voltar aos trilhos, enquanto a condição de um pedinte com roupas de baixo status poderia ser percebida como algo sem recuperação.

É importante ressaltar que não foi um estudo controlado: não eram as mesmas pessoas passando por Callaghan, e isso pode ter influenciado nos resultados. Outro fator é que o pesquisador não estava exatamente mendigando, e o seu cartaz poderia ser interpretado como pedido de coleta para doação a grupos de caridade.

Bem como, Callaghan é um homem branco, independente do que estava vestindo, então os resultados não podem ser generalizados para toda a população, que é altamente diversa em termos de etnicidade, fatores socioeconômicos e gênero.

Ainda assim, o estudo demonstra que o status tem um papel forte nesse tipo de situação. Mais pesquisas podem ajudar a compreender melhor quais dinâmicas estão em jogo quando os humanos decidem por atitudes altruístas no dia a dia.

A pesquisa do “mendigo” de terno foi publicada na revista Frontiers in Psychology.

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