Primeiros embriões de rato desenvolvidos fora do útero

Mateus Marchetto
Pesquisadores conseguiram desenvolver embriões de rato fora do útero pela primeira vez. (A. Aguilera-Castrejon et al., Nature 2021)

No dia 17 de março, pesquisadores publicaram o sucesso da primeira criação de um protótipo de blastocisto humano feito em laboratório. No mesmo dia, contudo, uma outra equipe de cientistas publicou seu estudo do primeiro desenvolvimento de embriões de rato fora de um útero. Os embriões atingiram quase a metade de seu desenvolvimento natural (que é de 20 dias) e apresentaram uma alta semelhança com fetos implantados em úteros, nesse mesmo estágio.

No estudo, publicado na Nature, o Dr. Jacob Hanna e os colaboradores de seu laboratório relatam o desenvolvimento dos embriões ex utero. Primeiramente, os pesquisadores precisaram retirar os conceptos fecundados do útero de uma fêmea de rato. Esses conceptos, por conseguinte, foram preparados e tratados em diversos meios de cultura nutritivos.

Além do mais, os pesquisadores do laboratório do Dr. Hanna utilizaram um “útero mecânico” para cultivar os embriões. Esse aparato consiste em uma cultura rotatória que fornece oxigênio, retirada de excretas e todos os nutrientes que os embriões precisariam (confira o vídeo abaixo).

Ao final de 5 dias, já era possível observar a formação dos primeiros órgãos – coração, fígado, pulmões. Além do mais, análises moleculares e genéticas mostraram que os embriões cultivados fora do útero tiveram um desenvolvimento praticamente idêntico ao que teriam dentro do ventre.

Embriões de rato ex utero – qual a importância?

A biologia do desenvolvimento de mamíferos ainda é um campo muito complexo. Primeiramente, a observação é bastante difícil. Por isso muitas vezes é necessário usar embriões de anfíbios como modelos, já que eles tem invólucros transparentes. Além do mais, a manipulação de embriões de mamíferos (principalmente humanos) esbarra frequentemente em questões éticas bastante complicadas.

Por esses motivos, nas últimas décadas pesquisadores vêm buscando alternativas para o uso de animais em laboratório. Muitas análises biológicas, por exemplo, podem ser feitas hoje em dia por meio de softwares e bioinformática.

Fato é que esses embriões com desenvolvimento sintético podem diminuir drasticamente o número de ratinhos que participam de pesquisas de desenvolvimento. Outro ponto importante, inclusive, é que a visualização fica bem mais fácil, uma vez que não há dezenas de camadas de órgãos e tecidos da mãe entre o pesquisador e o embrião. Vale lembrar também que cientistas já conseguem criar um concepto a partir de células de um animal adulto (da pele, por exemplo).

Acima de tudo, esses embriões podem ser uma ferramenta para entender patologias que acontecem durante o desenvolvimento. A partir disso pode-se desenvolver novos tratamentos que ofereçam mais segurança ambos para bebê e mãe durante o desenvolvimento humano.

O artigo está disponível no periódico Nature.

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