Ecossistemas vitais estão sendo prejudicados pela erradicação de pequenos mamíferos

Abater espécies-chave de um ecossistema pode afetá-lo de maneiras inimagináveis. Cada espécie contribui, de alguma maneira, para o equilíbrio daquele ecossistema.

Felipe Miranda
Imagem: Wikimedia Commons.

Algumas extinções são acidentais, decorrentes dos efeitos da atuação humana. Mas algumas eliminações são pensadas. Por exemplo, no Brasil, a caça dos javalis é liberada, mas obviamente com regras, já que o animal é uma espécie exótica, e é considerado uma praga na agropecuária.

Um novo estudo, agora, publicado no periódico Journal of Animal Ecology fala sobre uma erradicação de espécie que deu errado. Pika e Zokor são dois pequenos mamíferos presentes em solo chinês. No planalto Tibetano, na China, um projeto de erradicação das espécies tentava proteger as pastagens. Entretanto, o estudo sugere que a erradicação das espécies, ao invés de ajudar, estão na verdade prejudicando o ecossistema em que vivem.

“A política da agência governamental de realizar campanhas de abate de animais em larga escala a cada ano não é uma boa abordagem”, disse ao Tree Hugger o autor correspondente do estudo, professor Johannes Knops, do departamento de Ciências da Saúde e do Meio Ambiente da Universidade Xi’an Jiaotong-Liverpool.

Muitas vezes, um projeto pode sair pela culatra. É difícil entender como uma complexa cadeia alimentar se comporta, pois muitas vezes são diversas as variáveis presentes no sistema. Os animais herbívoros se alimentam das plantas, e os carnívoros se alimentam destes, gerando uma complexa cadeia alimentar, com diversas relações de predação.

“Nossa pesquisa mostra que o uso de predadores naturais e outros fatores ecológicos para regular as populações de mamíferos escavadores pode ser uma abordagem mais sustentável e eficaz para o manejo de pastagens”, disse Knops

Os animais alvos da política são engenheiros de ecossistema, pois modificam o ecossistema em que estão presentes, causam um grande impacto. Entretanto, as espécies abordadas pelo estudo são espécies-chave para o ecossistema.

“Se olharmos para as pastagens, encontraremos inúmeras espécies de plantas, e nem todos os animais comem as mesmas plantas, por isso é crucial considerar toda a cadeia alimentar em vez de matar todos os pequenos mamíferos”, disse Knops.

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Esse é um zokor. Imagem: Xiao Sa/Wikimedia Commons

A política é baseada na ideia de que os dois mamíferos escavadores competem com o gado por pastagem. Mas essa competição não necessariamente existe da maneira com que pensaram.

“É importante considerar os efeitos colaterais da redução da população de pequenos mamíferos escavadores. Se há menos pequenos mamíferos, há menos alimento para seus predadores naturais, como raposas vermelhas, tourões, urubus de terras altas, ursos marrons e doninhas da montanha”, disse Knops.

As complexas relações entre os membros de uma cadeia alimentar precisam ser consideradas, quando se fala em um ecossistema.

“Esses mamíferos maiores não apenas começarão a procurar fontes alternativas de alimento e cada vez mais predarão o gado, causando mais conflitos entre humanos e animais selvagens”, explica Knops ao The Hugger, “mas suas populações também diminuirão”.

Os cientistas pedem que a política seja revista e encerrada, visto que as evidências demonstram o efeito contrário ao que se esperava.

“A política de erradicação, portanto, causa o efeito oposto ao pretendido, pois quando o número de predadores naturais do pika e do zokor é reduzido, as populações de mamíferos escavadores podem aumentar rapidamente. Isso requer mais controle humano, o que é caro e impacta negativamente as espécies não visadas e o meio ambiente”.

Os pesquisadores trazem algumas sugestões para o problema, como uma diminuição no pastoreio do gado. Dessa maneira, pode-se preservar melhor a natureza e as espécies animais.

“Ao manter uma baixa densidade estável de mamíferos escavadores usando predadores naturais e fatores ecológicos, podemos promover práticas sustentáveis de pastoreio de gado, preservando a biodiversidade e reduzindo os conflitos entre humanos e animais selvagens”.

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