Descobertos traços de DNA humano antigo em joia de osso com 20.000 anos de idade

Daniela Marinho
Pingente de dente de alce descoberto na Caverna Denisova. Imagem: INSTITUTO MAX PLANCK DE ANTROPOLOGIA EVOLUTIVA

A extração de DNA de joias antigas revela informações sobre nossos antepassados pré-históricos, fornecendo pistas sobre suas culturas através de uma nova técnica de análise óssea.

Nesse sentido, pesquisadores extraíram DNA antigo (aDNA) de uma joia encontrada na Caverna Denisova, na Sibéria, que durante centenas de milhares de anos serviu como refúgio para nossos ancestrais, abrigando uma riqueza de ferramentas e objetos feitos por neandertais, denisovanos e homo sapiens. Na caverna é possível encontrar restos pré-históricos excepcionalmente preservados, incluindo os de parentes não humanos.

Método de extração de DNA exclusivo

Publicado na revista Nature, o método de extração de DNA exclusivo elaborado por pesquisadores e cientistas, permitiu a extração do DNA de um pingente de osso de 20.000 anos para determinar o sexo e a identidade genética de um humano primitivo que já o usou e pode ajudar na descoberta de histórias de mais artefatos.

A análise convencional de DNA pode ser um processo destrutivo, envolvendo o uso de produtos químicos que podem danificar o material. Para evitar danos ao objeto completo, os pesquisadores geralmente removem uma pequena amostra para testes, através de cortes ou raspagem.

No entanto, há muito já se busca por um processo que não exijam danos irreparáveis ​​a artefatos preciosos. Desse modo, no novo estudo, a equipe de Elena Essel, bióloga molecular do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, testou uma maneira de extrair DNA de objetos feitos de osso, dando-lhes vários banhos em uma solução suave, mas bastante eficaz.

Processo para extração de DNA

Essel utiliza uma técnica de limpeza que compara a uma “máquina de lavar” para objetos antigos. Após a remoção dos sedimentos, um técnico de laboratório submerge cada item em um tampão de fosfato de sódio com detergente e lava o objeto três vezes em temperaturas cada vez mais altas para extrair fragmentos de DNA.

Antes de utilizar a solução de fosfato, a equipe conduziu testes para avaliar a alteração da estrutura dos ossos dos animais. Foram observadas mudanças nas estruturas microscópicas na superfície dos ossos, que podem ser danificadas por alguns produtos químicos, como o EDTA, um agente químico comumente utilizado na extração de DNA.

De acordo com Essel, “se você imaginar a superfície, ela realmente se parece com montanhas e vales. Após a exposição ao EDTA, as montanhas basicamente desaparecem, e a superfície fica lisa e homogênea”. Após a extração de fosfato, “você ainda vê essas montanhas e vales, mas perde as partículas de sedimentos presas à superfície”.

O DNA da mulher teria sido incorporado ao osso através do manuseio extensivo durante a criação ou uso do pingente, tornando impossível para os pesquisadores determinarem se ela foi a criadora, usuária ou ambas.

A joia mais antiga já descoberta

DNA
Impressão artística do pingente na Caverna Denisova. Imagem: MYRTHE LUCAS

A fabricação de objetos por humanos antigos e modernos existe há milhões de anos, com as ferramentas mais antigas datando de mais de três milhões de anos e associadas a espécies como Paranthropus e Homo habilis. No entanto, a produção de outros itens, como joias, começou muito mais tarde, com as joias mais antigas datando de cerca de 142.000 anos atrás, que foram feitas pelos primeiros Homo sapiens no Marrocos.

Não foram apenas os ancestrais humanos que fizeram joias, já que garras de águia suavizadas e entalhadas foram encontradas entre restos de neandertais na Croácia, sugerindo que eles também apreciavam joias. Os pesquisadores acreditam que as garras foram modificadas para serem montadas em colares ou pulseiras cerca de 130.000 anos atrás, antes da chegada do Homo sapiens à Europa.

Joias de osso são um recurso potencialmente rico para os cientistas estudarem o DNA de hominídeos antigos, uma vez que fragmentos de DNA podem ter entrado nesses artefatos quando foram usados ou feitos. Contudo, a obtenção do DNA é difícil e geralmente envolve cortar o osso, o que pode danificar os artefatos raros e destruir evidências insubstituíveis sobre como foram feitos. Dessa maneira, o novo método representa um avanço imprescindível para que novos estudos possam ser melhor desenvolvidos.

Além disso, esse método de análise do DNA contido em artefatos antigos pode fornecer aos pesquisadores informações valiosas sobre padrões culturais, como o uso exclusivo de certos objetos por um sexo ou a fabricação específica de artefatos por grupos específicos de hominídeos antigos.

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