Como a Terra se recuperou do último grande aquecimento global?

Mateus Marchetto
Imagem: Adam Derewecki / Pixabay

Há mais de 55,8 milhões de anos, algum tempo depois da extinção dos dinossauros, a Terra passou pelo último grande aquecimento global. Com as temperaturas entre 5°C e 8°C mais altas do que anteriormente, o planeta levou quase 50.000 anos para se recuperar. Pesquisadores descobriram isso, aliás, estudando isótopos de lítio no ambiente.

O Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno foi um período não apenas de aquecimento do planeta, mas também de aquecimento em um curto período de tempo. Dinâmicas globais relacionadas a gases de carbono, principalmente o CO2, levaram a uma liberação de compostos estufa rapidamente no ambiente.

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A erosão libera carbono e certos isótopos de lítio no ambiente. Imagem: Frank Winkler / Pixabay 

No entanto, o planeta Terra, e seus ecossistemas por consequência, se recuperou de alguma forma, ocasionando uma baixa nas temperaturas nos milhares de anos seguintes. Para ter esse panorama tão detalhado, pesquisadores precisaram analisar a variação de diversos compostos nos oceanos para propor uma hipótese.

Dentre estes compostos, a pesquisa publicada no periódico Science Advances utilizou principalmente o lítio. Acontece que dois isótopos de lítio (Li 6 e 7) são liberados no ambiente durante a erosão de rochas (processo que libera também CO2 na atmosfera).

Assim, analisando sedimentos do Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno, a equipe pode observar que a erosão e o intemperismo de rochas estava em alta. Isso, portanto, liberou quantidades significativas de carbono na atmosfera, a ponto de aquecer o planeta todo de forma drástica.

Como usar estes dados para a recuperação de um grande aquecimento global

A chave da pesquisa, por conseguinte, é a evidência de que o planeta eventualmente se recuperou deste aquecimento. Para além do fato, a maneira como isso aconteceu é importante.

Como dito antes, a erosão de rochas libera gás carbônico no ar. O gás carbônico, então, aumenta a temperatura da atmosfera, o que causa ainda mais erosão. Esse loop, portanto, prossegue até que algum dos processos seja interrompido.

Acontece que o aumento de gás carbônico na atmosfera também causa o aumento desse composto na água de rios e oceanos. Nessas águas, diversos processos químicos e principalmente biológicos fazem com que este gás estufa fique preso no fundo do mar na forma de carbonato (que é insolúvel e sólido).

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Imagem: Hans Braxmeier / Pixabay 

Ou seja, a Terra teve um sistema “tampão” que corrigiu as concentrações de carbono no ambiente ao longo do tempo. Sobretudo, organismos marinhos utilizam o carbonato para compor suas conchas e esqueletos, o que foi provavelmente o fator determinante para o resfriamento do planeta nos 50 mil anos seguintes ao grande aquecimento global.

Tendo isso em vista, é possível inferir que este tipo de mecanismo ainda possa acontecer após o aquecimento que estamos causando na atmosfera. Todavia, é preciso lembrar que existem milhões de outros poluentes nos ambientes aquáticos, além de gases estufa.

Estes poluentes, inclusive, são responsáveis pela morte de boa parte da biodiversidade marinha, inclusive de centenas de espécies que utilizam o gás carbônico para compor suas conchas e esqueletos de carbonato.

Portanto, ao passo que estamos bagunçando a atmosfera do planeta, ainda é pouco provável que este sistema de recuperação do planeta opere tão bem. E ainda que operasse, seriam 50 mil anos para recuperar os estragos.

A pesquisa está disponível no periódico Science Advances.

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