Câmara de magma vulcânica é descoberta nas profundezas do Mediterrâneo

Daniela Marinho
Cratera vulcânica de Kolumbo no fundo do mar. Imagem: SANTORY

Câmara magmática ou câmara de magma vulcânica é uma espécie de reservatório de rocha líquida, originada no manto, localizada abaixo de um vulcão. Nesse contexto, um desses reservatórios, nunca antes observável, foi descoberto por cientistas nas profundezas do Mediterrâneo, próximo a Santorini – uma belíssima ilha grega.

A descoberta foi possível diante da utilização de uma técnica própria para estudar ondas sísmicas. Anteriormente desconhecida, a câmara magmática está sob o vulcão submarino Kolumbo.

Descoberta câmara de magma vulcânica perto de Santorini

Há cerca de 400 anos, a erupção mortal de um vulcão submarino destruiu a singular ilha de Santorini. No entanto, o mesmo vulcão possui uma câmara de magma vulcânica, nunca antes observada, que pode alimentar outra densa erupção nos próximos 150 anos. A estimativa surge após os pesquisadores elaborarem um novo estudo a respeito.

O vulcão Kolumbo fica há 7 quilômetros de Santorini, cerca de 500 metros abaixo da superfície do oceano e é considerado um dos vulcões submarinos mais ativos do mundo. Segundo relatos históricos, a última erupção do Kolumbo em 1650 d.C. matou, no mínimo, 70 pessoas.

Nesse viés, um novo estudo revela o risco de uma nova erupção, visto a descoberta de uma câmara de magma vulcânica não detectada anteriormente que vem crescendo sob o vulcão Kolumbo, colocando em risco as pessoas que moram na região e os turistas que visitam Santorini. A descoberta foi publicada em outubro de 2022 na revista Geochemistry, Geophysics, Geosystems.

Inversão de forma de onda completa

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Câmara de magma vulcânica. Imagem: Nia Schamuells e Michele Paulatto, 
https://volcanoroots.org/santorini-and-kolumbo/

Para monitorar os vulcões submarinos, são utilizados os sismômetros, assim como acontece nos vulcões terrestres. Contudo, a instalação dos sismômetros nos vulcões submarinos é complexa, além de haver menos deles, o que significa que os cientistas têm menos dados sobre os vulcões submersos. No esforço de superar esse problema, os cientistas usaram uma outra técnica para estudar a mecânica interna do vulcão Kolumbo.

Desse modo, os pesquisadores utilizaram um método chamado inversão de forma de onda completa, no qual são empregadas ondas sísmicas – feitas artificialmente – para criar imagens de alta resolução com o objetivo de mostrar a rigidez ou maciez da rocha subterrânea.

De acordo com um comunicado feito pelo co-autor do estudo e vulcanologista do Imperial College London, Michele Paulatto, “A inversão de forma de onda completa é semelhante a um ultrassom médico […] Ele usa ondas sonoras para construir uma imagem da estrutura subterrânea de um vulcão.”

Como a câmara de magma vulcânica foi descoberta

As ondas sísmicas possuem a característica de viajarem em velocidades diferentes pela Terra, variando conforme a rigidez da rocha pela qual estão passando. Dessa forma, a bordo de um cruzeiro de pesquisa próximo do vulcão, os cientistas dispararam uma pistola de ar comprimido, produzindo ondas sísmicas no solo abaixo.

Com os dados das gravações sísmicas, foi possível observar uma diminuição significativa na velocidade sob o vulcão, revelando, portanto, a presença de uma câmara de magma vulcânica, ao invés de somente rocha sólida. Com cálculos posteriores, os pesquisadores puderam afirmar que a câmara de magma vem crescendo cerca de 4 milhões de metros cúbicos por ano desde 1650. Atualmente, a câmara possui cerca de 1,4 km cúbico de magma.

Quando entrou em erupção, o Kolumbo possuía 2 km cúbicos de volume de magma.

Monitoramento de vulcões submarinos

Primeiro autor do estudo e geofísico do Imperial College London, Kajetan Chrapkiewicz, afirma sobre a importância de monitorar vulcões submarinos: “Precisamos de dados melhores sobre o que realmente existe abaixo desses vulcões […] Sistemas de monitoramento contínuo nos permitiriam ter uma estimativa melhor de quando uma erupção pode ocorrer. Com esses sistemas, provavelmente saberíamos sobre uma erupção alguns dias antes de acontecer, e as pessoas poderiam evacuar e ficar seguras.”

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