Aurignacianos, a primeira cultura artística

Dominic Albuquerque

Desde a evolução do Homo sapiens, há aproximadamente 1.8 milhão de anos, a espécie humana avançou em diversos aspectos da existência, especialmente na arte. Segundo historiadores, os primeiros registros de humanos se envolvendo com criações artísticas datam de quase 40.000 anos atrás, na Europa e no Sudeste Asiático.

Referidos como aurignacianos, esse grupo foi o primeiro dentre os Homo sapiens a migrarem para fora da África. Hoje, são conhecidos como os primeiros europeus dentre os humanos modernos.

Após migrarem para fora da África e se estabelecerem na Europa, eles desenvolveram uma arte figurativa, pertencente ao período do Paleolítico Superior. Essa arte é conhecida como o registro mais antigo de arte pré-histórica, e fornece um vislumbre fascinante acerca dos pensamentos dos primeiros europeus da história humana.

A arte dos aurignacianos

Os aurignacianos migraram da África para a Europa durante o período paleolítico. Esles fazem parte de um grupo estendido de humanos europeus, os cro-magnons, que existiram entre 48.000 a 10.000 anos atrás.

Os aurignacianos se destacam pelo desenvolvimento e uso de ferramentas primitivas. Já foram encontradas centenas de diferentes ferramentas e produtos feitos a mão, sugerindo a existência de toda uma indústria onde os aurignacianos teriam desenvolvido novas ferramentas de trabalho, e possivelmente até as trocado uns com os outros.

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Colar aurignaciano feito com dentes de urso, cavalo, castor e alce, encontrado em Mladec, na República Tcheca. Imagem: Wolfgang Sauber

Muitas dessas ferramentas distintas eram feitas de chifres ou ossos, com os quais eles criavam agulhas, pontas e lâminas. Eles também usavam pedras para criarem esses objetos.

Além de usarem essas ferramentas para sobrevivência, os aurignacianos também as utilizavam para criar arte, especialmente pinturas e esculturas. Um exemplo disso é o desenvolvimento do buril, uma ferramenta feita de um pedaço de pedra que era usado para esculpir em madeira, ossos e chifres.

Esculturas de marfim de aproximadamente 33.000 AEC foram descobertas por arqueólogos desde o século passado. Essas esculturas possuem muitas formas, como de mamutes, cavalos e até leões.

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Desenho de um cavalo correndo, feito por aurignacianos. Imagem: Gary Todd

Figuras esculpidas em argila também foram encontradas, formando esculturas de animais e mulheres grávidas, com algumas dessas estatuetas sendo apontadas como uma possível figura representante da fertilidade, apresentando um detalhamento que faz alguns estudiosos acreditarem na possibilidade de carregarem algum simbolismo ritualístico.

Os aurignacianos também criaram um dos primeiros instrumentos da história. Diversas flautas feitas de osso foram encontradas na Europa, com a mais velha tendo sido criada há 35.000 anos.

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Réplica de uma flauta de ossos feita pelos aurignacianos. Imagem: José-Manuel Benito Álvarez

Ainda que não tão comuns quanto as esculturas, as pinturas e desenhos dos aurignacianos também chamam atenção. A caverna Chauvet na França é um dos locais onde eles foram encontrados, com algumas pinturas tendo pelo menos 36.000 anos de idade.

Muitas dessas pinturas em cavernas são simbólicas, e representam, para os historiadores, uma origem para a criatividade humana. Um exemplo é uma pintura que forma o contorno da mão, onde o artista colocou sua mão contra a pedra e pintou ao redor com um pigmento vermelho.

Outros desenhos apresentavam pinturas a mão onde o pigmento era aplicado no próprio membro antes dele ser aplicado na parede.

Além de usar as mãos para criar arte, muitos artistas aurignacianos pintavam animais, como leões e rinocerontes.

Em 1996, os arqueólogos Jean Clottes e David Lewis-Williams lançaram um livro de interpretações acerca das artes vistas na caverna Chauvet. Como os desenhos carregavam tanta profundidade, eles sugeriram a teoria de que as pinturas eram parte de algum ritual religioso.

O foco em pintar mãos pela caverna poderia ser uma tentativa de chamar espíritos ou deuses para fora da pedra, ou talvez uma forma de se comunicar com eles. Contudo, essas teorias são debatidas pelos arqueólogos, e não há um consenso geral.

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