Após 37 anos, OMS recomenda vacina da malária na África Subsaariana

Mateus Marchetto
Imagem: Jerome Delay/The Associated Press

Por mais de cem anos, pesquisadores vêm buscando uma vacina efetiva contra a malária. Agora, a vacina da malária RTS,S pode estar próxima da ampla distribuição em áreas de risco para a doença.

No dia 06 de outubro, o diretor geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou a recomendação da vacina RTS,S para populações de risco da África Subsaariana. “Hoje é um dia histórico”, afirma o diretor em um pronunciamento da organização.

De acordo com a recomendação, a vacina RTS,S é segura e tem um ótimo custo-benefício. O imunizante, vale lembrar, está em desenvolvimento há 37 anos e se mostrou seguro em testes clínicos ainda em 2015. Recentemente, uma segunda vacina da malária mostrou 77% de eficácia também em testes clínicos.

Desde 2019, a OMS tem liderado testes da vacina da malária em Gana, Quênia e Malawi. Estes testes tinham por objetivo estudar a possibilidade da ampla distribuição do imunizante por todo o continente. Agora a organização afirma que os testes mostraram grandes vantagens pela aplicação da vacina.

Segundo estudos, ademais, a RTS,S oferece 40% de proteção contra a infecção, além de 30% de eficácia contra casos graves. Conquanto os números pareçam baixos em relação à vacina contra a Covid-19, quatro em cada dez crianças ameaçadas pela doença estariam seguras, o que reduziria a pressão sobre o sistema de saúde e forneceria certo tempo para o desenvolvimento de outros imunizantes e medicamentos.

Quais as dificuldades em desenvolver a vacina da malária?

A malária não acontece pela ação de um vírus, nem de uma bactéria, como a Covid-19 e tuberculose, respectivamente. Na verdade, o agente causador da malária é um protozoário – ou melhor, cinco protozoários – do gênero Plasmodium. Dentre eles, o responsável pela maior parte das mortes é o Plasmodium falciparum.

No geral, ademais, a doença causa mais de 400.000 mortes a cada ano, com 94% dos casos acontecendo no continente africano. Apesar disso, certos países da Ásia e América do Sul (incluindo o Brasil) sofrem pela doença.

O problema central no desenvolvimento da vacina da malária, contudo, é que protozoários são muito mais complexos que vírus, por exemplo. Os Plasmodium, por conseguinte, têm diversos estágios de vida, cada um com características diferentes e formas de ação igualmente variadas.

A nova vacina da malária tem como alvo os esporozoítos do Plasmodium falciparum. Ou seja, a primeira forma do protozoário que entra em contato com o corpo, logo após a picada de um mosquito. Assim como a dengue, vale comentar, a malária também tem os mosquitos como vetores.

Outras medidas de segurança em relação à doença envolvem a distribuição de redes de cama, para afastar os mosquitos durante a noite, ou o uso de inseticidas nas residências. Contudo, ainda assim as pessoas continuam expostas durante o dia. A maioria das vítimas, inclusive, são crianças nos primeiros anos de vida.

“Imagine que seu filho pequeno poderia estar saudável em um dia e cheio de potencial, e depois da picada de um mosquito infectado, enquanto brincando com os amigos ou dormindo em uma cama, ele poderia estar morto em algumas semanas.”, afirma o doutor Ashley Birkett, à BBC.

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