Antigo corpo d’água foi detectado em Marte, segundo estudo

Rafael Motta
Hypanis Valles, em Marte. Imagem: Kevin M. Gill

Um estudo gravitacional do planeta vermelho confirmou o que muitos estudiosos suspeitavam há décadas: há cerca de 4 bilhões de anos, Marte contava com a presença de grandes oceanos em sua superfície.

Trata-se de uma pesquisa publicada no jornal Icarus, feita em parceria com a American Astronomical Society’s Division for Planetary Sciences e liderada por Jaroslav Klokočník, professor emérito no Instituto Astronômico da Academia de Ciências da República Tcheca.

Terra inóspita? Nem sempre

Diferentemente do que alguns pensavam, Marte não foi sempre um planeta tão frio e seco. Na verdade, fortes indícios apontam que o clima era bem mais quente e úmido e caíam chuvas perto do equador. 

Além disso, acredita-se que alguns vales marcianos tinham quedas d’água, em especial durante o período noaquiano – considerado pelos estudiosos como a época mais provável em que teria existido vida no planeta. 

O novo estudo sugere que o período em que pode ter existido vida durou mais do que as projeções anteriores: algo em torno de 500 milhões de anos. Depois disso, o planeta perdeu aos poucos sua atmosfera e água, tornando-se em um deserto de cerca de 6.780 km de diâmetro.

Metodologia do estudo

A aplicação do método baseado na gravidade já foi testada com sucesso na Terra. Ele foi capaz de localizar, com precisão, a linha costeira de um antigo lago no Norte da África

Evidências arqueológicas se correlacionaram com o método de gravidade aplicado pelos estudiosos, confirmando sua eficácia.

Impressão artística de Marte com água em sua superfície há bilhões de anos.
Impressão artística de Marte com água em sua superfície há bilhões de anos. Imagem: ESO

Em vez de analisar anomalias gravitacionais isoladamente, Klokočník calcula os aspectos da gravidade de Marte a partir de dados anteriores de anomalias gravitacionais. 

De maneira resumida, anomalias gravitacionais são diferenças na força gravitacional que ocorrem devido a discrepâncias no relevo. Enquanto uma montanha tem uma força gravitacional maior que uma superfície lisa, pois possui mais massa, uma bacia ou trincheira oceânica tem uma força gravitacional menor.

O instrumento Mars Orbital Laser Altimeter, da NASA, colaborou com o estudo ao fornecer dados importantes sobre o planeta. Ele foi lançado em novembro de 1996 e passou aproximadamente quatro anos e meio mapeando o planeta. 

Com isso, os estudiosos foram capazes de determinar com melhor precisão a localização do possível paleoceano de Marte.

Esperança em Marte

Encontrar água no planeta vermelho é um dos grandes desejos dos entusiastas da astronomia em todo o mundo. Tal descoberta ajudaria os cientistas a determinarem se houve, de fato, algum tipo de vida no local – ainda que apenas microbiana.

Entretanto, a busca por vida marciana continua inconclusiva: ainda em 2023, a NASA enviou o rover Perseverance ao planeta vermelho para buscar sinais de vida. Ele encontrou moléculas orgânicas, só que a origem de tais moléculas ainda é desconhecida.

Compartilhar