Animais podem prever desastres naturais: verdade ou mito?

Mateus Marchetto

Terremotos e tsunamis são eventos naturais implacáveis. Uma vez engatilhados, há poucas coisas que nós humanos possamos fazer para evitar problemas. Pior ainda: é muito difícil prever desastres naturais com uma margem de tempo significativa para salvar vidas. Diversos relatos, contudo, mostram que animais talvez possam sentir esses desastres com certa antecedência.

No dia 26 de dezembro de 2004, o terceiro terremoto mais intenso já registrado no planeta atingiu diversos países da Ásia, sobretudo a Indonésia. Atingindo entre 9,1 e 9,3 pontos de magnitude, o terremoto (e subsequente tsunami) causou a morte de mais de 200.000 pessoas. O curioso é que parques nacionais como o Yala, do Sri Lanka, não registraram mortes em massa de animais selvagens.

Desde então, pesquisadores e curiosos suspeitam que alguns animais podem prever desastres como terremotos muito antes deles de fato chegarem ao seu ápice. O vídeo abaixo, por exemplo, mostra dezenas de gatos acordando ao mesmo tempo, antes de um terremoto atingir o local.

Apesar das dezenas de vídeos similares circulando pela internet, um estudo de 2018 analisou mais de 700 casos do tipo e não pôde tirar conclusões significativas. Isso porque a maioria dos eventos são isolados, e é impossível cruzar dados para validar a hipótese de que os animais realmente sentem desastres com antecedência.

Contudo, algumas evidências podem mudar o que sabemos nesse sentido. Em 2014, dados de uma fazenda de gado no Japão mostraram que a produção de leite das vacas diminuiu de forma drástica nas três semanas anteriores à incidência de um terremoto na região. Nesse caso, pesquisadores monitoraram a produção de leite dia a dia ao longo de meses.

Sistema de proteção global para prever desastres naturais

Outros estudos, além do da fazenda de leite do Japão, buscaram analisar a mudança do comportamento animal frente a desastres naturais iminentes. Então de fato há evidências de que animais podem prever desastres naturais. Nós só não sabemos exatamente como.

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Imagem: Christoffer Borg Mattisson / Pixabay 

Baseando-se nisso, inclusive, diversos cientistas se lançaram na busca de um sistema de proteção global baseado em animais. O Icarus, por exemplo, é um sistema em desenvolvimento que utiliza dados de comportamentos animais para prever possíveis terremotos. Os autores da ideia utilizam tags de rastreamento em milhares de animais ao redor do mundo e processam os dados utilizando inteligências artificiais e mesmo uma antena da Estação Espacial Internacional.

Os possíveis sinais

Além da vibração na terra, terremotos e tsunamis podem causar uma variação na qualidade e composição do ar atmosférico. Com o aumento de fissuras nas rochas – que precede terremotos – diversos gases podem escapar do manto e ir parar no ar.

Assim, animais com um olfato mais sensível poderiam, talvez, sentir essa mudança. Sapos, por exemplo, são altamente sensíveis à variação da qualidade da água, devido a sua respiração cutânea. Possivelmente por isso, pesquisadores observaram sapos abandonando suas lagoas antes do terremoto de 2009 que atingiu a Itália.

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