Se você pensa em ter um animal de estimação exótico, então reflita mais. Isso porque, para ter um animal exótico, existe um comércio tenebroso e cruel, que submete animais a torturas horripilantes e coloca em risco a existência de espécies inteiras.
Esse comércio ilegal também atinge vidas de seres humanos, pois nos torna suscetíveis a doenças zoonóticas sem cura conhecida pela medicina moderna.
Apesar do quadro ser assustador, com inúmeras desvantagens, o comércio de animais exóticos só aumenta.
O que é um animal de estimação exótico?
Não existe uma definição exata para o termo, mas estes animais vivem principalmente na natureza e são, em sua maioria, espécies nativas de uma determinada nação.
Podemos dar uma definição feita pelo Dr. Mohamed Nader, que é um consultor e veterinário dos Emirados Árabes Unidos:
“Um animal de estimação exótico é um animal de estimação selvagem e não é domesticado. A domesticação é um processo seletivo de reprodução que ocorre ao longo de milhares de anos. Cobras, papagaios, iguanas, tartarugas e lontras são alguns exemplos de animais de estimação exóticos”.
A “selvageria ou estranheza” do animal é o que torna um “animal de estimação exótico” um desejo tão grande, que alguém está disposto a pagar uma boa quantia para levar o animal desejado para casa. Mas enquanto o futuro proprietário espera ansiosamente para ver o escolhido chegar com amor e carinho, exibi-lo para amigos e familiares e nas redes sociais, uma história de miséria incalculável se desenrola para entregar o animal de estimação desejado à porta do proprietário.
Comércio lucrativo
Um dos maiores estudos realizados sobre esse tema, publicado em 2019, revelou dados alarmantes. Nele, os pesquisadores descobriram que em torno de 1 em cada 5 vertebrados terrestres são traficados no comércio de animais selvagens no mundo inteiro.
Isso equivale a uma proporção de 40-60% maior ao que era esperado em estudos prévios, e o que é mais alarmante, esse número pode aumentar de 1-4 em tempo recorde.
Além de serem vendidos como animais exóticos de estimação, algumas espécies são capturadas para a vende de pele, ossos ou carne.
Sabe-se que é um negócio mundial e multi-bilionário que fomenta cada vez mais o colapso ambiental e potencial extinção de incontáveis espécies.
Estima-se que 8-21 bilhões de dólares esteja ligado com o comércio ilegal da vida selvagem (plantas e animais), tornando-se o maior negócio ilegal do mundo inteiro.
Nesse tipo ultrajante de comércio, estima-se que um quinto de todo o tráfico de vida selvagem esteja destinado à demanda por animais de estimação e entretenimento (circos e outras atrações do tipo).
Nos Estados Unidos esse comércio de arrepiar movimenta em torno de 15 bilhões todos os anos e estima-se que no Reino Unido existam mais de 42 milhões de animais de estimação exóticos.
No Brasil, o IBAMA afirma que em torno de 38 milhões de animais sejam retirados anualmente do meio ambiente, e que cerca de 4 milhões deles sejam vendidos para fomentar, em parte, a demanda por animais exóticos de estimação, o que movimentaria em torno de 2,5 bilhões de dólares.
Dentro desse comércio, encontramos os mais diversos tipos de animais, onde podemos incluir: ouriços, macacos, lagartos e aves.
É um comércio sem limites, as pessoas compram esses animais e não buscam por informações sobre a espécie, como por exemplo, se ela está em risco de extinção ou se é legalizada para a venda.
Só nós podemos por isto ao fim
Considerando todas as adversidades associadas ao comércio, uma grande porção de conservacionistas e especialistas em saúde desestimula a compra de animais de estimação exóticos. Eles também apelam para que o público e os formuladores de políticas apoiem a formulação e implementação de leis e diretrizes mais rígidas para conter esse comércio em escala global.
A CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora) é um desses acordos internacionais onde os governos de muitas nações se comprometeram a proibir ou regular o comércio de espécies ameaçadas. Há também uma necessidade de melhor educação e treinamento das agências de aplicação da lei para resgatar os animais comercializados e punir os culpados. E há uma necessidade de campanhas poderosas como a TrappedInTrade para aumentar a conscientização em massa entre o público.
No final das contas, é a alta demanda do mercado que sustenta o comércio de animais exóticos de estimação. Na maioria das vezes, os usuários finais são amantes de animais sem má intenção, mas sem conhecimento dos bastidores. Para aqueles que já possuem tais animais de estimação, o Dr. Nader tem alguns conselhos:
“Os animais selvagens não devem ser abandonados ou colocados em condições deploráveis. Suponha que o proprietário não possa mais cuidar de um animal selvagem; nesse caso, o animal deve ser enviado a um santuário ou zoológico seguro. Ele nunca deve ser solto na natureza para que não esteja sujeito a predação, fome ou doença ou acrescente ao problema das espécies invasivas existentes”, disse ele.
No Brasil, você pode entrar em contato com a Secretaria de Meio Ambiente do seu estado para buscar mais informações sobre como repassar o seu animal adiante caso não tenha mais condições de cuidar dele. Como se trata de um animal de fora do país e por ter vivido toda a sua vida confinado aos cuidados humanos, ele morrerá se for solto.
Assim, com todos os seus deméritos, o comércio de espécies exóticas exige nossa atenção e ação imediata sobre o assunto. Com as espécies em risco de extinção e a saúde humana em jogo, o governo e o povo de cada nação devem se unir para assumir esta responsabilidade.