272 animais e 210 plantas exóticas ameaçam biodiversidade no Brasil

Felipe Miranda
Imagem: Alexandre Vasenin

Desde 2005, o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental monitora uma série de espécies animais e vegetais no exóticas, ou seja, invasoras, no Brasil. Esses 272 animais exóticos e mais de 210 espécies de plantas ameaçam a biodiversidade no Brasil.

Boa parte dessas espécies foram trazidas pelo ser humano, seja acidentalmente, seja por vontade própria. Os animais podem pegar carona em navios e plataformas de petróleo. Além disso, nas viagens propositais, eles podem ser vir como fonte de alimentação.

É um exemplo o coral-sol, nativo dos oceanos Índico e Pacífico. O coral chegou ao Brasil por meio das plataformas de petróleo importadas que chegaram à Bacia de Campos.

O lagostim-vermelho apareceu em território brasileiro por causa do hobby de aquarismo e, em algum momento, alguém o liberou na água de rios e lagos.

Há também as espécies que vieram como alimento. A tilápia africana, Oreochromis macrochir chegou para servir a pesca e à agricultura, mas ao s ser soltos em corpos de água, se espalhou.

Problema no equilíbrio do sistema

A evolução natural das espécies gera um ambiente equilibrado e de harmonia entre os membros. Cada espécie contribui de sua maneira à cadeia alimentar e outras relações no ambiente. Mas quando chegam as espécies invasoras, os efeitos podem ser profundos.

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O famoso mosquito da dengue é uma espécie invasora. Imagem: Vaccines at Sanofi

“Os problemas gerados dependem da espécie. Tem espécies predadoras, que se alimentam de outros animais, como é o caso do peixe-leão (Pterois volitans), bastante agressivo que se alimenta de diversas espécies de peixes. Temos outros como os javalis (Sus scrofa), que destroem a regeneração natural de plantas na floresta e degradam áreas naturais. E tem aquelas que ocupam espaço de espécies nativas, como a tartaruga tigre-d’água [americana, Trachemys scripta]. Elas acabam ocupando nichos de reprodução ou de descanso de espécies similares nativas”, disse à Agência Brasil a fundadora do Instituto Hórus, Silvia Ziller.

Já citado anteriormente, o lagostim-vermelho (Procambarus clarkii) é um vetor de fungo que pode dizimar as espécies nativas. O lagostim-vermelho teve sua comercialização parada em 2008 por determinação do governo federal.

Outro exemplo é o camarão-tigre-gigante (Penaeus monodon), vetor de vírus e bactérias como a salmonella. O camarão é nativo dos oceanos Índico e Pacífico e foi introduzido no Brasil pela agricultura. Ele coloca em risco a saúde humana.

Um exemplo clássico de animal invasor que causa um grande transtorno é o Aedes aegypti, vetor de diversas doenças, como febre amarela, dengue, zika e chikungunya.

“Bicho invasor ou planta também quando está num novo ambiente, em condições novas, às vezes ele tem potencial no material genético [para se adaptar], e aquilo explode num ambiente totalmente novo. É um erro nosso [provocar a invasão], mas cabe a gente para cuidar que isso seja cessado ou pelo menos minimizado para reduzir os problemas”, explica Jorge Antonio Lourenço Pontes, doutor em Ecologia e Evolução e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Combate

É preciso, então, combater a situação.

“Em vez de você só investir em programas de controle, que são de longo prazo, também investir em uma abordagem mais preventiva, de detecção das espécies quando elas começam a ser um problema”, explica Ziller. “Aquelas que são introduzidas mais recentemente, porque ainda têm populações menores, ainda são focos pequenos. A erradicação é mais viável do que quando já tem populações muito grande estabelecidas. O javali já está espalhado pelo Brasil, assim como o caracol-africano. A gente vai conviver com essas espécies sempre. Elas não são mais passíveis de eliminação completa. Elas são passíveis de iniciativas de controle, em áreas prioritárias”.

Após a publicação de um artigo da Agência Brasil em março de 2023 que abordava o assunto, o Ministério do Meio Ambiente enviou uma nota em que destacava algumas de suas medidas, como a criação do Programa Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida, que visa controlar e erradicar espécies invasoras ainda no início da invasão.

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