Vírus Nipah: o patógeno mortal que causa novo surto na Índia pode se espalhar?

Felipe Miranda
Vírus Nipah sobre a superfície de uma célula infectada. Imagem: NIAID

Boa parte da Índia está parando por causa do surto de um vírus – e não se trata da Covid-19. Segundo a BBC, até o dia 15 de setembro, um novo surto do vírus Nipah (NiV) gerou cinco casos e duas mortes no Estado de Kerala, localizado no sul da Índia.

Desde 2018, esse é o quarto episódio de infecções relacionadas ao vírus na região.

Segundo a Forbes, escolas, escritórios e transportes públicos estão paralisados como parte das tentativas de controlar o surto, que até o momento permanece pequeno. Centenas de pessoas estão sendo testadas a fim de localizar possíveis novos infectados e não deixar que o vírus, que pode matar até três em cada quatro infectados, se espalhe.

Há risco do vírus Nipah se espalhar?

Segundo os especialistas, pelo menos por enquanto, as chances do vírus Nipah se espalhar para fora da região onde ocorre o surto são bem pequenas. Entretanto, isso não significa que os outros países não devam ficar vigilantes em relação a uma possível nova ameaça biológica.

“Atualmente, todos os casos relatados estão relacionados às regiões geográficas onde são encontrados morcegos que carregam o vírus. Por isso, o Brasil não tem um risco atual para a introdução do Nipah”, explica à BBC Brasil a médica veterinária Helena Lage Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

Também à BBC, o virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul explica sobre as maneiras de lidar com o surto em um mundo extremamente globalizado, onde as pessoas estão constantemente se movendo e viajando.

“O mais importante está justamente em rastrear os pacientes e os contatos próximos deles, para evitar que uma pessoa com vírus se desloque para outros locais e crie novas cadeias de transmissão”, diz Spilki.

O vírus Nipah

NiV é um vírus bastante raro e que pode ser mortal em muitos casos. Ele foi descoberto em 1999, quando ocorreu um surto entre porcos e criadores dos suínos em dois países – Malásia e Singapura.

Embora tenha sido descoberto em criações de porcos (o vírus é altamente transmissível em porcos durante sua incubação), os hospedeiros naturais do vírus são os morcegos frugívoros da família Pteropodidae.

Vírus Nipah
Raposas Voadoras, como são conhecidos os morcegos dessa família. (Imagem: MDK572 / Wikimedia Commons).

Alguns vírus permanecem restritos a uma ou poucas espécies. No entanto, o NiV é um vírus do tipo zoonótico – ou seja, pode ser transmitido de animais para humanos -, além de poder ser transmitido entre humanos. Ele infecta o ser humano pelo contato direto com animais infectados, seus fluidos corporais, ou pelo consumo de alimentos contaminados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infecção pelo vírus possui uma taxa de letalidade de 40 a 75%. Há essa variação pois a taxa de letalidade varia entre surtos, manejo clínico e as capacidades locais de pronto atendimento e vigilância epidemiológica, já que inúmeros fatores – como a estrutura hospitalar local e o prazo em que a infecção foi descoberta e o tratamento se iniciou – podem influenciar.

Não existe tratamento nem vacina para o vírus. A única maneira de prevenir é a vigilância epidemiológica. Se infeccionada, a pessoa deverá passar por tratamento médico, e o tratamento primário é essencial.

Entre os sintomas estão febre, dor de cabeça, dor muscular, vômitos e dor de garganta, mas podem surgir outros sintomas como sonolência, tonturas e outros sinais neurológicos.

Segundo a OMS, há a necessidade urgente de pesquisa de desenvolvimento contra o vírus Nipah.

A OMS diz que algumas regiões, atualmente sujeitas ao vírus, são Bangladesh, Camboja, Gana, Indonésia, Madagascar, as Filipinas e a Tailândia, além dos países dos surtos citados, como Índia e Malásia. Anualmente ocorrem surtos deles em alguns desses locais. Ou seja, embora sempre haja algum risco, não há perigo de uma pandemia iminente.

A Índia está agindo bem?

Países muito populosos precisam ter boas maneiras de mitigar surtos, e a atual pandemia escancarou o fato.

“As autoridades indianas estão fazendo aquilo que foi realizado para lidar com os surtos anteriores: monitorar os casos e rastrear os possíveis contatos. Para ter ideia, mesmo com duas mortes confirmadas até o momento, eles já testaram mais de 700 pessoas que tiveram algum contato direto ou indireto com as vítimas”, diz Spilki à BBC.

“É justamente isso o que precisa ser feito para encontrar pessoas infectadas, para que elas sejam isoladas e devidamente atendidas. Isso evita a dispersão do vírus para outras regiões”.

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