Universo espelho poderia explicar questões difíceis da cosmologia

Felipe Miranda
(Créditos da imagem: Shutterstock)

Não, aqueles neutrinos refletidos no gelo da Antártida não provam a existência de um universo paralelo onde o tempo corre para trás. Mas isso não quer dizer que o universo espelho não exista.

Grandes portais de notícia de todo o mundo, não muito cientes do que é de fato o método científico, caíram na falácia que foi veiculada pelo tabloide britânico The Daily Star. Muitos chamaram a matéria do tabloide de “relatório oficial da NASA”.

A história se iniciou com uma distorção de um pesquisador não envolvido com a NASA que deu uma entrevista ao New Scientist, publicada na edição de abril. Neil Turok, o físico que deu a entrevista, é diretor do Instituto Perimeter de Física Teórica, no Canadá. Ele dizia as implicações que haveriam caso houvesse de fato um universo paralelo, mas nunca disse que foi descoberto.

A história é basicamente a seguinte: ANITA (Antarctic Impulsive Transient Antenna), um projeto de diversas instituições, detectou partículas de alta energia saindo do gelo, na Antártica.

Elas geralmente vem do espaço, pois partículas de alta energia possuem uma forte interação com a matéria, e essa foi a bizarrice. Existem explicações mais simples e mais plausíveis do que um universo paralelo, entretanto.

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Pesquisadores se preparam para lançar o experimento ANITA (Antarctic Impulsive Transient Antenna), que captou sinais de partículas impossíveis enquanto balançava de seu balão sobre a Antártida. (Crédito da imagem: NASA)

Pode existir um universo espelho?

A existência de um universo paralelo espelhado – onde tudo é invertido – poderia resolver vários problemas de simetria de matéria e energia que até o momento permanecem como incógnitas.

Em 2018, um físico chamado Latham Boyle, do mesmo instituto em que Turok dirige hoje, publicou um artigo na Physical Review Letters onde abordava essa possibilidade de um universo espelho.

Ele lança a proposta pensando em alguns buracos do modelo Lambda-CDM (sigla em inglês para lambda-matéria escura fria). É algo que explica alguns pontos da cosmologia relacionados ao Big Bang.

Um dos furos que não compreendemos, por exemplo, é o fato de que, no início, matéria e antimatéria se formaram na mesma taxa. Entretanto, elas se aniquilam, formando energia.

Como ainda temos matéria no universo, significa que a matéria se formou em um número maior. Mas por quê? Bom, a existência de um universo espelhado poderia indicar que essa antimatéria que igualaria está lá. Dessa forma, a simetria ocorre quando pensado nos dois universos juntos.

Especulação ou realidade?

No momento, ainda é só um campo especulativo, e não há evidências suficientes para a ciência dizer que isso é um fato e nem levar a ideia tão a sério. Veja a imagem abaixo:

Se universo espelho existir, poderá responder questões da cosmologia
(Créditos da imagem: Meghan McCarter)

A imagem ilustra a ideia do físico John Learned, um outro cientista que se baseia nas ideias de Boyle. No modelo dele, o nosso universo é um dos cones. O “encontro” dos cones é o Big Bang, e o outro cone é o universo espelho.

Boyle disse ao Live Science que apesar de não haver evidências, “uma vez que você a tenha, acontece que este universo possui uma simetria extra, que você não viu quando estava apenas olhando a metade superior do cone”.

E esse é o ponto que faz com que alguns cientistas busquem por maneiras de testar a hipótese. Esse modelo preserva a simetria CPT (Carga, Paridade e Tempo) de forma que os nossos modelos atuais não conseguem.

Mas como já disse Carl Sagan: “Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”. Não podemos afirmar nada, mas isso não quer dizer que a imaginação não possa extrapolar para buscar uma resposta.

Com informações de Live Science.

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