Os vírus foram alguns dos últimos microrganismos a serem descobertos formalmente pela humanidade, há pouco mais de 100 anos. Desde então estes seres têm tirado o sono da comunidade científica, especialmente para aqueles pesquisadores e especialistas que querem classificá-los.
A resposta simples e rápida é que não existe resposta definida, pelo menos até o momento. Ou seja, muitas autoridades no assunto afirmam que os vírus são, certamente, seres vivos. Outros especialistas discordam veementemente disso.
Para entender esse debate, portanto, é preciso mergulhar um pouco na própria definição de vida. E existem muitas.
Por muito tempo considerados meras partículas
Os príons são proteínas infecciosas. Diferentemente de bactérias, por exemplo, um príon não tem material genético, nem célula, nem qualquer tipo de membrana. Ainda assim essas proteínas podem causar patologias, como a doença da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina). Os príons, certamente, não são organismos vivos, mas sim apenas moléculas.
Por muito tempo, ademais, os vírus caíram em uma classificação parecida. Estes organismos eram definidos como meras partículas infecciosas que tinham a capacidade de causar doenças.
O metabolismo, nesse sentido, é uma das chaves para entender o debate sobre a vida dos vírus. Isso porque estes microrganismos não têm organelas e metabolismo próprio. Eles apenas se apropriam do metabolismo das células hospedeiras para gerar outros vírions e fazer com que a linhagem continue.
Assim, uma célula infectada passa a trabalhar a favor do vírus, deixando suas prioridades de lado. Eventualmente, esse trabalho escravo irá levar à morte da célula hospedeira, e possivelmente uma patologia, quando falamos de organismos multicelulares.
Por que vírus se encaixam – mais ou menos – como seres vivos
Alguns autores argumentam, contudo, que os vírus têm um metabolismo, ainda que não seja deles próprios, e que as formas virais fora da célula hospedeira são como formas de resistência, em busca de um alojamento.
Ademais, estes microrganismos têm dois pontos bastante fortes que os puxam para o lado dos seres vivos: a genética e a evolução.
Vírus têm, invariavelmente, um material genético. Este pode ser DNA (como é o caso do HIV) ou RNA (como os coronavírus). Acontece que estes materiais genéticos carregam informações do organismo que serão transmitidas aos seus descendentes, ou algo próximo disso. Essa transmissão de informações entre gerações, inclusive, é uma característica essencial da vida na Terra.
Ademais, estes materiais genéticos são passíveis de mutações e variações significativas, que podem mudar os produtos gerados por aquela informação modificada. Ainda, os vírus são suscetíveis a processos de seleção – natural ou artificial – e de deriva genética, por exemplo. Essa última é a eliminação de organismos por eventos aleatórios.
Mutação, seleção e deriva, vale ressaltar, são três processos componentes do trabalho da vida de Charles Darwin: a evolução das espécies. Vale comentar, aliás, que seleção natural e evolução não são a mesma coisa. A primeira é uma parte da segunda.
Ou seja, estes microrganismos evoluem, em termos darwinianos, como qualquer outra forma de vida no planeta. Além disso, milhares deles foram essenciais para a formação da vida como a conhecemos hoje. Boa parte do genoma humano, nesse sentido, é composto de DNAs de vírus ancestrais que um dia infectaram nossa espécie ou uma espécie ancestral.
A formação do sistema imune humano, da placenta, e diversos outros componentes, por exemplo, depende de materiais genéticos que provavelmente vieram de vírus e foram englobados por nossas células, já que nem todos os vírus são letais ou patogênicos.
Com informações de Science News.