Terapia genética é usada para regenerar nervos ópticos de ratos

Mateus Marchetto
Usando uma terapia genética, cientistas conseguiram estimular a regeneração de neurônios do nervo óptico de ratos. (Imagem de Tibor Janosi Mozes por Pixabay)

Cientistas conseguiram regenerar nervos ópticos de ratos em laboratório. O método envolve terapia genética para melhorar a produção de uma proteína: a protrudina. Nesse sentido, ela ajuda a curar ou ao menos reduzir lesões no nervo óptico – que liga os olhos ao cérebro.

O estudo publicado na Nature Communications ainda mostrou que essa mesma proteína pode ajudar a evitar a morte dos neurônios. Esses resultados podem ser em especial importantes para pacientes com glaucoma. Isso porque essa doença causa danos ao nervo óptico, em geral por causa da pressão muito alta dentro do olho.

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O nervo óptico liga o cérebro à retina. (Imagem de KattanaSox por Pixabay)

Inclusive, estudos do Reino Unido mostram que um em cada 50 britânicos com mais de 40 anos têm essa doença. Quando se passa dos 75 anos, uma em cada 10 pessoas da região possuem a doença. Não obstante, essa terapia pode ser usada para diminuir os efeitos de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. Isso porque ele age diretamente nas células danificadas: os neurônios.

Por que regenerar nervos ópticos é tão difícil?

O desafio desse estudo está ligado à vida dos nossos neurônios. Essas células são muito especializadas e também são essenciais para o funcionamento do corpo. Contudo, uma vez machucado, um neurônio não consegue mais se curar por completo. Por isso, aliás, é tão difícil reverter doenças da memória.

Contudo, cientistas usaram uma proteína do próprio corpo humano para tentar um novo tratamento. E funcionou – pelo menos nos ratinhos. A protrudina estimulou crescimento dos neurônios, que não acontece naturalmente. Para verificar isso, os cientistas fizeram uma lesão a laser no nervo óptico dos ratos (seguindo todos os protocolos de bem-estar animal).

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As setas brancas na imagem mostram a melhora das células(Petrova et al., Nature Communications, 2020)

Feito isso, os pesquisadores usaram uma terapia genética para aumentar a produção de mais protrudina. Vale lembrar que a genética envolve códigos para produzir proteínas que fazem todas as funções mais básicas do nosso corpo. Portanto, o tratamento funciona por meio de mudanças do código genético – o DNA – para que o corpo produza, ou não, alguma proteína. Nesse caso, o alvo foi a protrudina.

Além de melhorar o crescimento dos neurônios, essa proteína também diminuiu a chance de morte das células nervosas. Ademais, isso mostra, mais uma vez, a chance de parar ou até mesmo reverter o avanço de doenças degenerativas. Só no Brasil, por exemplo, em torno de 1 milhão de pessoas sofrem do mal de Alzheimer, que reduz muito a qualidade de vida e pode acabar causando a morte do paciente.

Os tratamentos já estão em testes clínicos, mas ainda pode levar anos até o uso em humanos

Antes de um tratamento ou medicamento ter aprovação para o uso, ele precisa passar por centenas de testes biológicos. Estes testes comprovam – ou não – que o tratamento é seguro e faz efeito no combate a alguma doença. Contudo, os testes clínicos podem levar mais de dez anos antes que muitas comissões mostrem que o recurso é seguro.

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(Imagem de Konstantin Kolosov por Pixabay)

Muitos tratamentos já usam terapias genéticas em hospitais contra alguns tipos de câncer, por exemplo. Entretanto, esses recursos são muito caros e nem sempre funcionam bem. No caso da cura do nervo óptico, muitos de testes ainda precisam ser feitos em ratos, primatas e, finalmente, humanos, antes que a terapia chegue à mão dos pacientes.

Além do mais, esses tratamentos podem levar mais alguns anos até estarem acessíveis a toda a população. Porém, o estudo continua sendo um grande avanço no combate às doenças dos nossos neurônios.

O estudo foi publicado na Nature Communications.

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