Tartaruga peculiar, Pelochelys cantorii, é finalmente registrada pondo ovos

Leandro da Silva Monteiro
Pelochelys cantorii. Imagem: Wikimedia Commons - Domínio Público

O mundo animal é recheado de criaturas estranhas. Algumas chegam a ser assustadoras e outras apenas bizarras. E infelizmente alguns desses seres um tanto diferentes se encontram ameaçados de extinção. É o caso da Pelochelys cantorii conhecida pelo gigantesco nome de tartaruga-gigante-de-carapaça-mole-de-cantor. Mas como vocês verão o nome é o aspecto menos peculiar.

O nome da Pelochelys cantorii já indica uma das suas características mais notáveis que é seu tamanho. A tartaruga-gigante-de-carapaça-mole-de-cantor pode chegar a medir 2 metros de comprimentos e 50 quilos. Além disso, a tartaruga tem uma cabeça larga, porém seus olhos ficam muito próximos do focinho, o que lhe concede essa aparência de sapo. Mas aquilo que mais chama atenção nela é o fato de não possuir um casco rígido como outras espécies, o que a torna mais vulnerável a ataques de predadores.

Por conta da caça para consumo da sua, depredação do seu habitat natural e o fato delas frequentemente ficarem presas indevidamente em equipamentos de pesca, hoje a Pelochelys cantorii se encontra num estado crítico de extinção. Contudo, numa nota positiva, recentemente pesquisadores encontraram uma fêmea da  tartaruga-gigante-de-carapaça-mole-de-cantor que comprovaram estar se reproduzindo, o que pode ajudar a mudar o status da espécie. 

Conservacionistas estão há anos tentando levantar mais informações sobre a espécie para conseguir desenvolver formas de protegê-la. Contudo a espécie geralmente se esconde nas areias dos rios do Sul e do Sudestes da Ásia de onde ela é nativa. Isso dificulta o trabalho da equipe de rastrear e observar a Pelochelys cantorii.

A busca pela Pelochelys cantorii

Depois de muitas tentativas fracassadas usando os métodos tradicionais de pesquisa ecológica atual, a equipe da Dra. Francoise Cabada Blanco, da Universidade de Portsmouth, resolveu apelar para a sabedoria local de comunidades do rio Chandragiri que fica em Kerala, na Índia. Junto dos seus colaboradores, a Dra. Blanco produziu um estudo que foi publicado este mês na Onyx.

Pelochelys cantorii
(a) Pelochelys cantorii adulta capturada acidentalmente e (b) filhote de um ninho. Imagem: Onyx

Liderados pela ecologista Ayushi Jain, a equipe se envolveu com os moradores da região coletando relatos dos avistamentos históricos que tiveram da Pelochelys cantorii que serviram de pistas para determinar as possíveis localizações das tartarugas. O grupo também ajudou a libertar algumas das tartarugas que haviam sido capturadas acidentalmente pelas redes de pesca.

A colaboração com a comunidade local levou a equipe de conservacionistas não somente até a fêmea nidificante da tartaruga-gigante-de-carapaça-mole-de-cantor como também a toda uma população reprodutiva. O grupo chegou até a resgatar alguns ovos de ninhos inundados e soltaram os filhotes na água, logo após seu nascimento.

Esse foi um passo muito importante para a conservação da Pelochelys cantorii e os esforços da equipe da Dra. Blanco não param por aí. Agora eles estão montando uma incubadora na comunidade para garantir que as próximas ninhadas de tartarugas-gigantes-de-carapaça-mole-de-cantor possam nascer protegidas. Os pesquisadores também destacam que o conhecimento da população local representou um papel crítico para o sucesso do estudo e da preservação daquela espécie.

A ecologista Jain ressalta como “a boa vontade da comunidade em se envolver formou a espinha dorsal de nosso projeto, nos permitindo registrar não apenas vislumbrar as tartarugas, mas também conseguir evidências de uma população reprodutiva – uma descoberta que muda a narrativa de uma espécie que se pensava estar desaparecendo das águas da Índia”.

A Dra. Blanco adiciona às palavras da sua colega que por muito tempo a Pelochelys cantorii foi quase como uma lenda local no contexto da sua biodiversidade. Eram avistamentos tão raros que a tartaruga-gigante-de-carapaça-mole-de-cantor “parecia um fantasma do passado”.

A equipe encara seu achado não apenas como um estudo, mas também como uma narrativa de descoberta. Isso ajuda a pôr mais esperança no futuro da espécie e ressalta como a contribuição com as comunidades locais pode trazer resultados extremamente positivos para os pesquisadores.

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