Sem proteção, formigueiro-de-cabeça-negra continua ameaçado de extinção

Felipe Miranda
Formigueiro-de-cabeça-negra. Imagem: Wikimedia Commons

Formigueiro-de-cabeça-negra é um pássaro endêmico do Brasil. Mais especificamente, o pássaro ocorre apenas em um pequeno trecho da área litorânea do estado brasileiro do Rio de Janeiro. O pássaro foi considerado extinto por mais de um século e segue, agora, desprotegido e ameaçado de extinção.

O formigueiro-de-cabeça-negra, ou Formicivora erythronotos, em seu nome científico, foi descrito pela primeira vez no ano de 1852.

Com cerca de 11 centímetros, o formigueiro-de-cabeça-negra é uma ave bastante pequena, e cabe tranquilamente na palma de uma mão pequena. Os machos da espécie possuem uma particularidade bastante bonita e atrativa aos olhos – uma área com uma coloração avermelhada na região das costas, causando um com contraste com o seu corpo negro.

Seu nome científico é, além disso, uma referência dupla, além da referência que também faz, é claro, seu nome popular. Em primeiro lugar, o nome formigueiro-de-cabeça-negra faz referência ao cardápio da ave. As formigas são não o único alimento, mas uma preferência da ave se alimentar. O seu nome científico significa, literalmente, “devorador de formigas com as costas vermelhas”.

A espécie vive em vegetações secundárias (formações herbáceas, arbustivas ou arbóreas decorrentes de processos naturais de sucessão, após supressão total ou parcial da vegetação original por ações antrópicas ou causas naturais, segundo resolução do CONAMA), como capoeiras da Mata Atlântica.

“A região da Costa Verde – Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty – só foi devassada mesmo a partir dos anos 70, quando construíram a Rio-Santos”, diz ao ((o))eco Fernando Pacheco, o ornitólogo responsável pela redescoberta do formigueiro-de-cabeça-negra, em 1987.

“Havia uma pressão pequena sobre a vegetação. E a redescoberta [do formigueiro] foi 15 anos depois disso. Já o contrário não, se a gente pegar a região da capital até o norte do estado, todas as baixadas, que seriam o habitat esperado para o formigueiro, foram detonadas há muito tempo, mais de 200 anos. Sobrou muita pouca mata de baixada, fragmentos. Enquanto na Costa Verde, a mata de baixada se salvou até os anos 70”, explica Pacheco.

A fala de Pacheco escancara um dos principais problemas do pássaro. Se por um lado, viver em matas secundárias torna mais fácil sua adaptação urbana, já que ele pode se contentar com pequenos arbustos e plantas em algumas áreas da cidade, seu habitat é muito mais facilmente destruído, deixando-o sem lar.

Formigueiro-de-cabeça-negra
Imagem: Wikimedia Commons

Formigueiro-de-cabeça-negra – O retorno das cinzas

Por mais de cem anos, o pássaro simplesmente sumiu do mapa, e foi por esse século inteiro considerado extinto. Nos anos 1980, ocorreu a última expedição em busca do pequeno pássaro negro. A expedição que buscava o animal, então considerado extinto, percorreu diversas áreas do estado fluminense, como um município chamado de Nova Friburgo. Esse município era o local onde imaginava-se que a espécie poderia estar vivendo, mas não houve sucesso na missão.

A busca por ele não era tão fácil pois sabia-se pouco sobre o pequeno pássaro. Não se sabia nem como era o seu canto. O que se sabia sobre a ave era apenas o que as descrições e o que os exemplares mortos do animal podiam nos mostrar. Esses exemplares eram pertencentes de naturalistas e colecionadores.

Após algum tempo, no ano de 1987, uma descoberta fascinante foi enfim realizada. No litoral do estado, mais especificamente uma área entre as cidades de Angra dos Reis e Paraty estava o formigueiro.

Criticamente ameaçado

A ave é classificada como Em Perigo na Lista Vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN) e, na lista do Plano de Ação Nacional (PAN) Aves da Mata Atlântica, classificado como Criticamente Ameaçado.

Alguns projetos trazem propostas para a luta pela conservação da ave, e isso se inicia pela necessidade de se entender mais sobre o pouco estudado formigueiro.

“Essa é uma ave que gosta de ambientes sucessionais, ela fica no sub-bosque e se alimenta até 2 metros de altura. Ela precisa dessa vegetação arbustiva, a capoeira. E nesse aspecto, ela “dá sorte”, porque não depende de florestas maduras, que levam 100 anos para se formar. E hoje em dia ela está só ali. Não existe de fato uma área de preservação ali onde ela ocorre, que seja de proteção integral e uso restrito”, diz Pacheco.

Algumas iniciativas para a conservação da ave partem de propostas de incentivos de criação, por proprietários locais, de pequenas áreas de conservação nas áreas de ocorrência das aves, mantendo alguma vegetação para a ave.

No entanto, até hoje não há nada oficial, partindo do governo, para a sua conservação. Não ocorreram grandes projetos ou ações para a conservação e combate ao risco de extinção do formigueiro-de-cabeça-negra. Mais de três décadas se passaram e a tão pouco distribuída espécie não possui projetos de conservação, e se mantém ameaçada com o avanço desenfreado da urbanização na área metropolitana em que vive.

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